“Meu exército é pesado a gente tem poder
Ameaça coisas do tipo você…”
Para começar nossa troca de hoje peço que: permita-se refletir para além de certas construções a respeito do gênero musical da artista. Digo isso, uma vez que estou fazendo o mesmo exercício. Sim, não tenho afinidade com estilo musical da Anitta, como muitas pessoas, porém este fato em nada muda o protagonismo, a representatividade, a influência e a simbologia social dessa mulher. Anitta tem gerado em seus contemporâneos questionamentos, reflexões que são forças propulsoras de transformação. Que são instrumentos analíticos da conjuntura político/social de nosso Brasil.
Quero iniciar este parágrafo com o seguinte questionamento: por que uma mulher como Anitta incomoda tanto? Durante os últimos dias me peguei pensando sobre isso. Veja bem, estamos falando de uma mulher, artista, empresária, independente, que chegou ao topo das principais listas de músicas mais tocadas no mundo por meio de sua inteligência, de seu empreendedorismo e de sua perspicácia. Entretanto, muitos veem apenas a mulher que rebola e fala abertamente sobre sexo. Antes de prosseguir o meu raciocínio, quero deixar registrado que, compreendo perfeitamente como o sistema usa da hiper sexualização da mulher em benefício de uma estrutura machista. Podemos falar sobre isso em outro momento. Porém compreendo, também, que vivemos em uma sociedade hipócrita, que se prevalece de uma moral conveniente.
Anitta é uma das pessoas mais influentes do nosso país, ela dialoga com milhares de pessoas. Ela tem sido uma das artistas que mais descontrói as práticas sórdidas do atual Governo Presidencial. Que de maneira brilhante tem usado de sua influência para que, de forma orgânica e massiva, se construa uma frente opositora ao tal “chefe” de Estado. Recentemente, Anitta apontou os principais mecanismos de marketing usado pela assessoria do presidente. Que podemos usar como base aquele ditado popular: fale bem ou fale mal, mas fale de mim. Ou seja, quanto mais falamos da pessoa, independente que seja de forma positiva ou negativa, ela será beneficiada no quesito popularidade. Esta tem sido, desde o princípio, uma das armas utilizadas pelo gestor federal de maneira pulverizada.
No entanto, mesmo Anitta mostrando senso político e estratégico, que deixaria muitos aquém dessa compreensão, ela é atacada, deslegitimada e descontruída, pelo fato de ser uma mulher que canta funk. Que dentro da sociedade brasileira é uma afronta à moral e aos bons costumes. Mas, são mulheres como Anitta que expõe o quanto vivemos numa estrutura machista que não aceita que uma mulher se posicione livremente sobre suas escolhas. Que utilizam de argumentos ultrapassados e preconceituosos para desqualificar a figura feminina empoderada. Porém, precisamos falar sobre Anitta, precisamos compreender o porquê de tanto incômodo. Precisamos ter uma visão prismática sobre as coisas, deixar de lado certos preconceitos, entender que não precisamos gostar de sua música ou concordar com alguns de seus comportamentos. Entretanto, não podemos negar a função social que ela vem promovendo enquanto mulher, preta e de periferia. Entender o quanto isso move as estruturas. Desta maneira, cara leitora e caro leitor, parafraseando Anitta, nosso exército é pesado a gente tem poder. Ou seja, podemos mudar a realidade de nosso país. Prepara! Se cuide! Até breve!