Não sou imparcial. Sou de esquerda.
Dentro da esquerda, sou pragmático. Procuro ver as conjunturas com objetividade, com a compreensão de que, por mais difícil que seja a realidade política, nós só conseguiremos mudá-la se a compreendermos com clareza.
Não mudaremos uma realidade adversa fingindo que ela não existe, especialmente quando as forças dominantes querem fazê-la permanecer como é.
Em Natal, há décadas, a esquerda só perde nas eleições para a prefeitura. Ainda assim, esses dias, um amigo veio me dizer que Natal é “progressista”, porque aqui iniciou-se a intentona comunista (há cem anos!!!).
É preciso perceber que o alívio dopaminérgico que traz a compreensão de que Natal é progressista não faz da capital progressista, apenas nos ilude, tirando de nós o foco necessário para torná-la, de fato, progressista.
Presos em nossas ilusões cômodas, enquanto os adversários regozijam-se com o poder real e concreto, e todas as possibilidades que ele traz consigo.
Olhemos a pesquisa estimulada SETA da última semana, cenário 1 (conferir publicação anterior).
Se unirmos os candidatos de centro-direita e direita, teremos: 18,7%.
Se unirmos os candidatos de centro-esquerda e esquerda (considerando Rafael Motta aqui), teremos: 18,2%.
“Ah, mas está ‘pau a pau'”. Sim, porque eu não considerei Carlos Eduardo, o qual, sozinho, tem 30,6%, e, convenhamos, a despeito da campanha passada, não há como o considerar de centro-esquerda.
Nesse ponto, é preciso distinguir a aprovação de Lula. Lula não é aprovado porque é de esquerda: é aprovado porque é Lula.
Analisando a pesquisa SETA, as anteriores e as sucessivas derrotas que a gente vem sofrendo nas últimas décadas, há como defender que Natal é progressista?
Sinceramente, acredito que não.
Se, para aliviar o medo do escorpião, passamos a crer que ele é uma barata, isso não faz dele uma barata, apenas nos torna mais vulneráveis para sermos derrubados pelo seu ferrão.
Ainda há tempo, e Natal pode vir a ser progressista.
Porém, devemos fazê-la progressista.
Para isso, é preciso que tenhamos uma postura não apenas digna de governar Natal, mas, também, capaz de nos fazer governá-la efetivamente. Não apenas em tese.