Uma questão relevante hoje nos processos eleitorais é o de saber até que ponto a internet e as redes sociais são fundamentais na decisão do voto, se tornando meio privilegiado de convencimento do eleitor. Superou a chamada mídia convencional e a televisão em particular (Horário Eleitoral)?.
Em um artigo publicado no site Tijolaço, no dia 12 de junho de 2017, o jornalista Fernando Brito, ao analisar dados de pesquisa sobre o uso das redes sociais em eleições, afirma que no caso do Brasil a esquerda ‘apanha’ feio dos sites de direita ou extrema direita, que tinham (e têm) um engajamento maior. Não apenas porque contam com financiamento, sobretudo porque têm sabido, com uma linguagem concisa, difundir mensagens moralistas (e destrutivas), cativar suas bases e assim ter vantagem diante da argumentação racional dos que tentam combatê-los. Para ele ”quem pensa comunicação política tem de deixar de ter como prioridade o roliudiano dos marqueteiros e refletir sobre o que a internet pede: produção de conteúdo – tarefa dos blogs – sua disseminação (Facebook e outras redes) e fixação de conceitos. Longos textos e longos vídeos estão longe de bastar. Idem os “sites de campanha”.
Se é fato é que as redes sociais podem influenciar na decisão do voto, resta saber como medir de fato sua influência. Diversos estudos acadêmicos, e não apenas no Brasil, baseados em diversas pesquisas, têm mostrado que para a decisão do voto há um conjunto de fatores que vão desde a que atrela a decisão do voto ao grupo ou classe social dos eleitores, e outros componentes relevantes como religião, escolaridade, nível de renda (modelo sociológico); assim como estudos do comportamento eleitoral privilegiando a formação de identidades subjetivas do indivíduo (modelo psicológico), assim como a teoria da escolha racional, que visa explicar e predizer o comportamento dos atores políticos como produto da ação racional individual orientada por cálculos de interesse pessoal tendo em vista a maximização de ganhos.
Uma das redes sociais que tem sido muito estudada e de inegável importância e influência é o Facebook, que reúne milhões de usuários, e os dados indicam que no Brasil são mais de 100 milhões de cadastrados. Não há como desconsiderar o seu papel. No entanto, apesar do consenso a respeito de sua importância nas campanhas eleitorais, não há consenso quanto o seu real impacto na decisão de voto, entre outros aspectos em função da dificuldade de mensuração. Para uma resposta mais consistente é necessária uma metodologia adequada, uma pesquisa empírica tanto qualitativa como quantitativa.
Uma pesquisa realizada em Portugal sobre o impacto do Facebook nas eleições, “A Influência da Rede Social Facebook na Decisão de Voto”, realizada para a dissertação de mestrado no Departamento de Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, defendida em 2012 por Claudia Isabel Silvério Gonçalves, revelou que o Facebook “não constitui um fator determinante para alterar a decisão de voto e surte um impacto limitado no que se refere ao número de eleitores e força da influência”.
No entanto ela afirma que o Facebook “contribui para a apreciação que parte dos eleitores faz dos candidatos e reforça as convicções dos já apoiantes” e nesse sentido “influencia as opções eleitorais”. A pesquisa revelou ainda que “quanto maior a frequência de utilização do Facebook como fonte de informação eleitoral, a importância atribuída à rede social como fonte de informação eleitoral e a atividade cívico-política dos inquiridos, por esta ordem de relevância, maior a probabilidade de o Facebook influenciar o voto”.
A pesquisa também revelou que a idade e escolaridade não são fatores decisivos na tomada de decisão e que os eleitores dedicam maior atenção às mensagens transmitidas pelos integrantes da sua rede de contatos do que das atividades realizadas pelos candidatos: “Neste contexto, sugere-se que o Facebook, pela sua disseminação pela população portuguesa e funcionalidades de interação, poderá vir a ser utilizado para proporcionar a mobilização dos eleitores entre si, promovendo estratégias eleitorais de ‘campanhas de cidadão’, como a que Barack Obama realizou nas eleições presidenciais norte-americanas de 2008”.
O mesmo vale para o Brasil e as eleições de outubro de 2018 em particular? É provável que sim. Mas há de se considerar, entre outros aspectos, a legislação eleitoral. No Brasil, uma das novidades para as eleições a partir de 2018 é que o Tribunal Superior Eleitoral autorizou, pela primeira vez em campanhas eleitorais, o uso de mensagens virtuais no Facebook e no Google. Por lei, a propaganda paga de internet está vetada, com exceção do patrocínio de postagens em rede social e a priorização de conteúdo em sites de busca, como o Google.
Qual o impacto que a publicidade de Internet pode ter nas campanhas eleitorais? Uma matéria publicada no jornal El País no dia 18 de julho de 2018, assinada por Rodolfo Borges e intitulada “Propaganda virtual na eleição ainda deixa mais perguntas que respostas”, diz que “Apesar do amplo debate do papel das redes sociais e das notícias falsas na vitória de Donald Trump, as pesquisas mais recentes sobre o assunto nos Estados Unidos sugerem um efeito pequeno nas urnas — levantamento feito em 2013 por pesquisadores das universidades Columbia e da Califórnia indica que apenas 8% dos usuários de Facebook lembram de ter visto o anúncio político”.
É fato que as redes sociais são importantes, um ambiente no qual as pessoas se informam e ficam cada vez mais tempo imersas, e não é por acaso que as campanhas eleitorais têm usado as redes sociais como canais para veiculação de informações políticas, ou seja, não se pode negar a crescente importância da Internet e das redes sociais para a comunicação política.
Mas a relação entre as redes sociais da web e os processos de decisão de voto é bem mais complexa. Não há evidências empíricas a respeito da extensão dessa influência e nem uma resposta única. Campanhas eleitorais e decisão do voto não se restringem a redes sociais e nem tampouco ao horário eleitoral de rádio e televisão, ou seja, o cenário da disputa pelo voto é mais amplo e complexo do que o uso das redes sociais.