Na política, não somos o que queremos ser, somos o que a conjuntura material nos permite ser.
Isso é um fato, uma questão objetiva. A subjetividade reside na postura que teremos em relação ao fato.
Vejo, basicamente, três “tipos ideais”:
1) O tipo romântico, com foco quase exclusivo na “tese”, em “como as coisas deveriam ser”, e discurso destinado basicamente aos setores já de esquerda (cultura, academia, sindicalismo, minorias). Confunde disputa eleitoral com debate acadêmico. Por vezes, diante da realidade desfavorável, em vez de agir para modificá-la, prefere negar sua existência.
O importante é manter a pureza da postura e do discurso, ainda que isso atrase em anos as modificações sociais que ele próprio defende.
2) O tipo entreguista, que tem o foco na realidade material do momento e no plano “micro” da política. Para o entreguista, “vale tudo” para manter os espaços de poder do seu grupo. Qualquer aliança é possível, e o discurso é mero instrumento de conveniência.
3) O tipo pragmático (tipo Lula), que embora tenha na “tese” o seu norte, compreende que políticas sociais não podem ser efetivadas “em tese”, senão na existência material, vivida numa conjuntura específica.
O pragmático busca compreender a realidade material, a fim de ocupar espaços de exercício efetivo de poder, por meio dos quais poderá agir para modificar a conjuntura, aproximando-a de “como as coisas devem ser”.
Foca nos setores tradicionalmente de esquerda, mas também nas massas sem ideologia definida.
Para o pragmático, apesar da importância da coerência do discurso, mais relevante do que defender modificações sociais é concretizá-las de fato, na medida em que não existimos “em discurso”, mas numa realidade material.
Para 2024, romantismo, entreguismo ou pragmatismo?
Minha opinião vocês já sabem.