Em razão dos 40 anos do MST, republico este artigo, postado originalmente um ano após a vitória de Lula sobre Bolsonaro.
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Pelo risco que corria a frágil democracia brasileira, em 2022 eu “dei o sangue” na campanha, fui para a batalha e “dei a cara à tapa”.
O momento não era fácil; quem votava em Lula e se aventurava em “colocar a cabeça para fora” tornava-se alvo de fortes críticas nas redes sociais. Eu fui um desses.
Um dos pontos que mais batiam em mim tinha a ver com o fato de que, visualmente, eu “não pareço um esquerdista militante”.
Chamavam-me playboy e falso cristão, por “votar em quem é contra os valores morais”.
Amigos se afastaram e, por minha postura, o Blog do meu pai, que é o principal veículo de comunicação do Potengi, perdeu seguidores e foi muito criticado, mesmo meu velho sendo de centro.
Doeu, não pelas críticas em si, mas porque algumas delas partiam de pessoas boas que eu respeitava, mas que estavam com a percepção embaçada pela polarização ideológica, que lhes impossibilitava de “separar uma coisa da outra”.
Não me arrependo. Esse era um preço que eu estava (e a ainda estou) disposto a pagar.
E aí a democracia venceu, e, com ela, eu também que a defendi.
O povo, aquele que não mostrava a cara, finalmente mostrou nas ruas, sem timidez.
Corri à minha casa e peguei meu drone para filmar a passeata histórica.
Embora o presidente deva governar igualmente para todas as pessoas, independentemente de em quem votaram, naquele dia, especificamente, eu me permiti “tirar onda” com os que me chamavam de “playboy”.
Coloquei meu boné do MST, vesti minha polo Lacoste (falsa, evidentemente) e fui cobrir a festa.
Após publicar o vídeo, compartilharam nos grupos de whatspp essa foto minha, chamando-me “playboy do MST”.
Àquela altura, eu nao estava nem aí.
Eu estava “anestesiado” pela vitória da democracia.
E também, é claro, pela “cana grande” que eu tomei em comemoração, vestindo meu boné do MST e minha polo Lacoste falsa.