O principal motivo para o apoio dos “patriotas cristãos” a Israel é uma interpretação bíblica minoritária sobre o Apocalipse, que associa o Estado de Israel ao Israel do qual São Paulo fala em Rm 11.

Lá, Paulo reflete sobre as diferenças entre a relação dos judeus e dos romanos com a fé em Jesus e, no verso 26, sentencia: “todo o Israel será Salvo”.

Parte dos cristãos entende que esse Israel é, de certo modo, o Estado de Israel, embora a maioria, aqui incluídos os católicos, os ortodoxos orientais e os protestantes históricos, entenda que a fala se refere ao Israel Espiritual, ou seja, “judeus convertidos” ao cristianismo.

De fato, ainda que o termo se referisse ao “conjunto de judeus NÃO convertidos”, não corresponderia ao Estado de Israel, na medida em que no país há milhares de cidadãos que nem judeus são.

Além disso, Paulo não teria deixado claro que judeus seriam esses, se aqueles geneticamente ligados a Abraão (independentemente da fé) ou aqueles que professam o judaísmo (independentemente do vínculo genético).

Paulo também não fala qual judaísmo seria, já que o judaísmo de hoje não se confunde com o do tempo dos apóstolos, muito menos com a fé dos profetas ou de Moisés.

Ademais, o próprio Cristo deixou clara a separação entre o Reino de Deus e as estruturas políticas de Estado, quando sentenciou “dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21) e quando respondeu a Pilatos, afirmando “meu Reino não é deste mundo” (Jo 8,36).

A similaridade que o Estado de Israel tem com o Israel bíblico é a mesmo que o cachorro-quente tem com os cachorros: apenas o nome.

A postura dos “patriotas” consegue contrariar, a um só tempo, a laicidade constitucional do Estado, a separação entre o Reino de Deus e as estruturas políticas e (pasmem!) o próprio conceito de patriotismo.

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