Ainda mais que as pesquisas, são os debates públicos que demonstram que a eleição deste ano para uma vaga ao Senado carece de ideias, de projetos. Parecem se confirmar até o momento duas tendências: uma daqueles que não admitem Rogério Marinho, e por isso acabam optando por Calos Eduardo; outra dos que vão no sentido oposto, aderindo a Rogério para evitar Carlos. Nisso, é próprio debate público que se enfraquece.
O Rio Grande do Norte há não muito tempo já foi protagonista no âmbito do Senado Federal. Ao tempo em que tínhamos Garibalbi Filho na Presidência do Senado, no início do segundo mandato de Lula, o líder da oposição era José Agripino. Dois projetos, duas visões distintas acerca dos rumos da nação disputavam os corações e mentes do eleitorado potiguar.
O cenário hoje é adverso. O ocupante da cadeira em disputa sequer será candidato, limado que foi por cálculos eleitorais além do mais duvidosos. Carlos Eduardo se firmou como candidato do governismo sem ter apoio das bases que hoje sustentam o governo de Fátima Bezerra. Embora tenha apoio considerável em parcelas importantes das cúpulas partidárias. Há meses em pré-campanha, ainda não disse a que veio, limitado que está a tentar desconstruir a imagem daquele que hoje é seu principal oponente, o ex-ministro Rogério Marinho.
Carlos Alves esteve fora do debate público sobre as questões que afetaram a sociedade potiguar nos últimos quatro anos. Suas últimas intervenções foram o apoio a Jair Bolsonaro e as críticas duras ao governo de Fátima Bezerra. A própria governadora chegou a declarar que seu principal propósito ao atrair Carlos Alves para a chapa era desmobilizar uma eventual renúncia do prefeito de Natal para concorrer ao Governo em outubro. É o triunfo da política do anti. Lança-se um nome não pelo que agrega, pelo projeto que representa, mas pelo que retira de forças aos adversários.
No mais, Carlos Alves tem pouco ou nada a dizer.
Já Rogério Marinho também expressa com sua pré-candidatura a política do anti. É o representante do anti-petismo, que em uma eleição majoritária de turno único como a do Senado pode lhe render os votos necessários para ser eleito. Conta ainda com ser o candidato anti Carlos Alves, postulante com grande rejeição e que não possui adesão das bases eleitorais de Fátima Bezerra.
Nesta eleição para o Senado, o eleitor pode se ver diante de uma dupla chantagem: votar num para não deixar se eleger o outro, e vice-versa. Sem que ambos, Alves e Marinho, digam a que vêm e apresentem suas ideias.
No vazio de ideias que afunda a política potiguar, a boa notícia tem sido a possível candidatura de Rafael Motta ao Senado. O jovem deputado federal trouxe a política nacional para o centro do debate, afirmando seu compromisso com o projeto liderado pelo ex-presidente Lula e trazendo à discussão temas importantes como os direitos dos trabalhadores, das minorias, e o diálogo com os setores da sociedade que se veem excluídos da política.
À medida em que o eleitorado se vê diante de escolhas com as quais não se identifica, as instituições políticas perdem representatividade e confiança. É nesse vazio de ideias que os arroubos autoritários ganham adesão popular. Já passou da hora de as lideranças políticas do estado superarem a tentação dos acordos de cúpula, das costuras sem respaldo popular, e oferecerem ao eleitorado alternativas reais, que expressem os anseios e necessidades da população.
A política do Rio Grande do Norte e a democracia têm muito a ganhar com o aparecimento de novos nomes, sejam uma via de expressão dos sentimentos dos eleitores, e não apenas arranjos de conveniência de líderes que parecem muito confortáveis numa disputa eleitoral em que os projetos e ideias estão ficando no segundo plano.