Ricardo Noblat/Metrópoles – Depois de governar quatro anos só pensando em dar um golpe de Estado, de jogar os brasileiros contra a Justiça, de lançar a descrença sobre o processo eleitoral e de apelar aos militares para que abolissem a democracia, o que Bolsonaro, agora, propõe?
A pacificação do país. Sim, uma anistia para todos os golpistas, inclusive ele. Seria o caso de lhe perguntar: “Se o golpe tivesse sido aplicado, haveria anistia para os presos pelo novo regime e indenização para as famílias dos que foram mortos?”
Nós, jornalistas, não parecemos interessados em fazer as perguntas certas a Bolsonaro, nem a contestá-lo face a face. O que mais nos interessa é arrancar dele declarações, se possível originais e bombásticas, para esquentar o noticiário e atrair mais likes.
A minuta do golpe de dezembro de 2022 teve três ou mais versões. Em uma delas, revisada pelo próprio Bolsonaro, estava previsto o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Em nenhuma das versões falava-se em pacificar o país. Com receio de ser preso a qualquer momento, ou o mais tardar depois de julgado e condenado, Bolsonaro passou a clamar por uma anistia ampla, geral e irrestrita, e quanto mais rápida melhor. Diz
– Para pacificar o Brasil, alguém tem que ceder. Quem? Alexandre de Moraes. Em 1979, foi anistiada gente que matou, soltou bomba, sequestrou, roubou. Agora, se tivesse uma palavra do Lula ou do Alexandre no tocante à anistia, estaria tudo resolvido.
Bolsonaro esqueceu que a ditadura militar de 64 matou, soltou bomba, sequestrou, roubou e torturou à vontade. E que a anistia de 1979, que permitiu a volta dos exilados, perdoou todos os chamados “crimes de sangue” cometidos pelos militares.
Até outro dia, Bolsonaro negava que tivesse conversado com comandantes militares sobre a possibilidade de golpe. Ele jamais faria algo “fora das quatro linhas da Constituição”. Ontem, admitiu ter conversado sobre “artigos da Constituição”. Mas para quê?
Ele respondeu vagamente, sem que que lhe cobrassem precisão: “[…] para voltar a discutir o processo eleitoral. Mas a ideia logo foi abandonada”. Por que discutir o processo eleitoral se ele fôra concluído e o presidente eleito diplomado pela justiça?
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