Sara Goes/Brasil 247 – “Falta só um papel. Mas tá faltando também humanidade.”
A voz de Assmaa Abo Eldijian treme, mas não falha. Mãe de quatro crianças e encurralada na Faixa de Gaza, ela fala direto do epicentro do genocídio promovido por Israel contra a população palestina. Nascida nos Emirados Árabes Unidos, filha de pai brasileiro, Assmaa viveu de forma regular no Brasil dos 4 aos 20 anos, concluiu o ensino fundamental e médio em escolas da Baixada Fluminense, trabalhou, pagou impostos e só deixou o país em 2006, quando se casou e passou a viver em Gaza.
Desde a intensificação dos ataques em outubro de 2023, ela luta para retornar ao Brasil com os filhos. “Eu sou brasileira. Sei falar, escrever, vivi ali, estudei ali. Só não tenho naturalização. E por isso o Itamaraty me nega o direito de sair daqui com meus filhos. Mas eu tô morrendo. Eu tô com fome. Eu tô com medo.”
Em entrevista concedida à rádio comunitária Atitude Popular, de Fortaleza, Assmaa detalha a agonia de quem assiste à infância dos filhos se dissolver no terror, nas explosões, na ausência de comida e no medo constante. “Hoje, o sonho de uma criança é comer. Não é mais brincar, estudar, ir pra escola. É comer.”
Apesar das dificuldades logísticas e diplomáticas, o governo brasileiro ainda realiza operações de repatriação da Faixa de Gaza. Em maio de 2025, por exemplo, um grupo de 12 pessoas, incluindo crianças, foi retirado do território e trazido ao Brasil com apoio do Itamaraty. Assmaa, no entanto, não está entre elas. Sem a cidadania formalizada, seu nome não entra nas listas de evacuação.
“Chorei tanto quando li aquela matéria dizendo que não podiam me tirar daqui… Como é que eu vivi 16 anos no Brasil, falo a língua, tenho CPF, boletins escolares, e ainda assim não sou considerada brasileira? Que país é esse que esquece os seus?”
Sem energia elétrica, sem gás, sem água corrente, Assmaa improvisa fogareiros com baterias para cozinhar o pouco que tem. “A farinha de trigo custa dois mil reais. O fósforo, cinquenta. Eu brigo com meu marido dentro de casa por causa disso. A guerra entrou até no nosso corpo, nas r“Eu tô pedindo pra viver”: palestina que viveu no Brasil denuncia abandono e pede socorro para deixar Gaza com os filhos
Assmaa Abo Eldijian viveu 16 anos no Brasil, fala português, tem CPF, boletins escolares, vínculos afetivos e culturais. Hoje, encurralada em Gaza com os filhos, vê seu nome fora das listas de repatriação. “Falta só um papel. Mas tá faltando também humanidade.”elações.”
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