A canção “Reconvexo” de Caetano Veloso ecoa, ainda hoje, como um hino de resistência e afirmação da cultura brasileira. Nascida da necessidade de rechaçar as críticas depreciativas de Paulo Francis, que de sua perspectiva em Nova York lançava um olhar desdenhoso sobre a riqueza cultural do Brasil, especialmente a nordestina e baiana, a música se tornou um poderoso contraponto à visão estrangeira e, por vezes, elitista que tenta moldar a percepção sobre a nossa nação.
A resposta de Caetano não foi de ataque, mas de celebração – um mergulho na diversidade e na profundidade de nossas raízes, ao transformar a crítica em palco para exaltar a identidade nacional.
A reflexão que “Reconvexo” nos provoca ganha um novo e urgente contorno diante do cenário atual. As taxações impostas por Donald Trump ao Brasil, embora com motivações meramente políticas e distintas das críticas culturais de Francis, representam, sim, à sua maneira, um desafio à soberania brasileira. São medidas que impactam diretamente nossa economia e, consequentemente, nossa capacidade de autodeterminação. Nosso país não deve flertar com a indigência intelectual de Trump à moda Bolsonarista.
Nesse contexto, a atitude do governador de São Paulo que aproveita o momento para depreciar a soberania do Brasil é particularmente alarmante. Se a crítica de Francis vinha de fora, o desdém ou a desvalorização vinda de dentro de nossas próprias fronteiras é ainda mais perigosa. Ela atua para minar a unidade nacional e fragilizar a capacidade do país de reagir a pressões externas – nenhum país pode interferir no judiciário brasileiro por questões abjetas de cunho político.
A atitude oportunista do Governador de São Paulo, em vez de defender os interesses do Brasil e de seu povo, serve apenas para aprofundar divisões e enfraquecer a posição do país no cenário internacional.
Assim como Caetano Veloso, em “Reconvexo”, nos convidou a olhar para dentro e valorizar o que é nosso, o momento atual exige uma postura semelhante.
É preciso resistir a qualquer tentativa de diminuir a soberania brasileira, seja ela vinda de potências estrangeiras ou de lideranças internas que se valem de crises para fins políticos, egoístas e individuais.
A defesa da nossa identidade, da nossa economia e da nossa capacidade de decisão é um imperativo. “Reconvexo” nos lembra que a verdadeira força de uma nação reside na sua capacidade de reconhecer e celebrar sua própria grandeza, mesmo diante das adversidades e das vozes que tentam nos diminuir.
O Brasil não é uma colônia dos Bolsonaros e nem deve ser servir aos seus interesses fortuitos.
Ricardo Valentim
Professor da UFRN