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O governo de Donald Trump instruiu seus diplomatas pelo mundo a não se pronunciarem mais sobre a eventual falta de transparência, fraude ou irregularidades em eleições em outros países, sempre que ficar determinado que o governo em questão responde a um interesse estratégico dos EUA. Fica ainda vedado comentar sobre os “valores democráticos” de outros governos.
Num telegrama enviado para todos os postos americanos pelo mundo, o secretário de Estado Marco Rubio orientou seus funcionários sobre como devem proceder a partir de agora. A ordem é simples: o interesse dos EUA de manter uma aliança com um governo deve ser prioridade, e não seu posicionamento sobre a existência ou não de uma democracia ou direitos humanos.
“Quando for apropriado comentar sobre uma eleição no exterior, nossa mensagem deve ser breve, focada em parabenizar o candidato vencedor e, quando apropriado, mencionar interesses compartilhados de política externa”, disse o telegrama, datado de 17 de julho.
“As mensagens devem evitar opinar sobre a imparcialidade ou integridade de um processo eleitoral, sua legitimidade ou os valores democráticos do país em questão”, disse.
A notícia sobre a instrução de Rubio foi primeiro revelada pela agência Reuters. Diplomatas confirmaram ao UOL a existência da circular. Nela, o chefe da diplomacia dos EUA indica que apenas haverá um comentário sobre uma eleição no exterior quando for de interesse dos americanos.
O documento justifica que, “embora os Estados Unidos se mantenham firmes em seus próprios valores democráticos e celebrem esses valores quando outros países escolhem um caminho semelhante, o presidente deixou claro que os Estados Unidos buscarão parcerias com países onde quer que nossos interesses estratégicos estejam alinhados”.
Em outras palavras: o foco não é mais a defesa da democracia. Mas a relação estratégica com um eventual parceiro.
Diplomatas consideram o gesto como um sinal de que Trump quer uma aproximação com regimes que, até hoje, eram considerados como párias, por conta de seu comportamento na questão dos direitos humanos.
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Trump questionou eleição no Brasil e suposta perseguição contra Bolsonaro
O telegrama revela uma incoerência diante da postura adotada por Trump contra o Brasil. Em sua carta de 9 de julho, na qual promete tarifas de 50%, o presidente americano acusa as autoridades de “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”.
Um dia depois, a embaixada americana no Brasil emitiu um comunicado no qual denuncia a suposta “perseguição política contra Jair Bolsonaro, sua família e seus apoiadores” e diz que o ato “é vergonhoso e desrespeita as tradições democráticas do Brasil”.
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Ação contra Cuba
O gesto de Trump não vale para Cuba. Há uma semana, o Departamento de Estado impôs sanções a autoridades cubanas de alto escalão, incluindo o presidente Miguel Díaz-Canel.
Em uma postagem no X, Rubio disse que o Departamento de Estado estaria “restringindo os vistos para as figuras do regime cubano” e seus “comparsas” por seu “papel na brutalidade do regime cubano em relação ao povo cubano”.