ICL Notícias – Na manhã de 9 de julho, o mercado de contratos futuros de dólar teve um movimento fora do comum. Em apenas 75 minutos, entre 11h30 e 12h45, nove negociações somaram mais de R$ 6,6 bilhões, quase 10% do total do dia. O maior negócio ocorreu às 11h38, com o BTG Pactual intermediando quase 10 mil contratos, equivalentes a R$ 2,7 bilhões. O anúncio das tarifas foi feito pelo presidente norte-americano Donald Trump às 16h17.

Os valores foram calculados com base no dólar a R$ 5,44, cotação do início do dia. As operações ocorreram pouco antes do anúncio do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil e agora essas movimentações são investigadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Um contrato futuro de dólar é um acordo para comprar ou vender a moeda norte-americana por um preço combinado em uma data à frente. Esse recurso é usado como proteção contra mudanças no câmbio ou para tentar lucrar com elas. Normalmente, as negociações são pequenas, de 5, 10 ou 20 contratos. Por isso, a sequência de ordens grandes, como as feitas por BGC Liquidez e Tullett Prebon com mais de 3.900 contratos cada, chamou atenção.

A analista Deborah Magagna explicou: “Mil contratos já chamam atenção. Acima de 4 mil é raro. Uma sequência dessas não é comum. Geralmente é feita por fundos, bancos ou pela própria corretora.”

Essas apostas em um dia de baixa liquidez tiveram impacto imediato. Para a Advocacia-Geral da União, isso pode significar que alguém já sabia das tarifas antes do anúncio. A investigação quer descobrir quem se beneficiou.

Outras grandes negociações também ocorreram no dia: às 10h13 (R$ 549 milhões), 14h07 (R$ 1,23 bilhão), 15h07 (R$ 411 milhões) e 18h12 (R$ 823 milhões). Somando tudo, os picos chegaram a R$ 9,9 bilhões, cerca de 14% dos negócios do dia, que totalizou R$ 70 bilhões.

Maiores negociações do dia
11h38: BTG Pactual, quase 10 mil contratos, R$ 2,7 bilhões.
14h07: BGC Liquidez, 4.500 contratos, R$ 1,23 bilhão.
12h19: Renascença, 4.000 contratos, R$ 1,09 bilhão.
12h45: Tullett Prebon, 3.965 contratos, R$ 1,08 bilhão.
12h23: BGC Liquidez, 3.945 contratos, R$ 1,08 bilhão.
18h12: XP Investimentos, 3.000 contratos, R$ 823 milhões.
10h13: XP Investimentos, 2.000 contratos, R$ 549 milhões.
11h53: BGC Liquidez, 1.975 contratos, R$ 542 milhões.
15h07: Tullett Prebon, 1.500 contratos, R$ 411 milhões.
11h54: Tullett Prebon, 1.490 contratos, R$ 409 milhões.
O que chama atenção não é só o tamanho dessas apostas, mas o momento: pouco antes de um anúncio que mexeria no preço do dólar.

“Essas grandes operações podem, sim, ter explicações, como ajustes técnicos ou gestão de risco. Corretoras que atendem grandes clientes movimentam volumes maiores com certa frequência”, disse a economista. “O que chama atenção, neste caso, é o contexto. Uma sequência de ordens concentradas, envolvendo o mesmo participante em ambos os lados da operação, antes de um anúncio que impactou o dólar. Isso, por si só, não configura irregularidade, mas justifica um olhar mais atento”.

O Supremo Tribunal Federal quer saber se as operações foram apenas apostas arriscadas ou se alguém já sabia do que ia acontecer, o que configuraria insider trading (informação privilegiada).

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