A punição de 30 dias imposta pelo Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná ao deputado estadual Renato Freitas (PT) foi suspensa pelo desembargador Jorge de Oliveira Vargas, do Tribunal de Justiça do Paraná, por meio de liminar. O conselho havia determinado a interrupção de prerrogativas regimentais e o afastamento de funções parlamentares, inclusive participação em comissões, votações e uso da tribuna.
A pena teve como pretexto a acusação de que o petista teria facilitado o acesso de manifestantes ao prédio da Alep durante protestos contra o projeto Parceiro da Escola, em junho do ano passado. No entanto, o desembargador considerou “equivocada” a aplicação da pena e destacou que não há elementos para caracterizar reincidência.
A boa notícia para Renato veio a público nesta quarta-feira (13), mesmo dia em que ele apareceu com destaque nas páginas do tradicional jornal britânico The Guardian, um dos mais importantes do mundo.
Em matéria com o título “The ‘European capital of Brazil’ moves to expel Black politician from office – again” (“A ‘capital europeia do Brasil’ se mobiliza para expulsar político negro do cargo – novamente”), de autoria do jornalista Tiago Rogero, o periódico conta a série de tentativas de cerceamento do mandato que o deputado tem sofrido ao longo da carreira política.
Em 2022, ele teve cassado o mandato de vereador de Curitiba, e atualmente a ameaça se repete. “Agora, um deputado estadual, ele enfrenta mais três processos de expulsão nos quais seus colegas, em sua maioria brancos e conservadores, decidirão se o removerão do cargo mais uma vez”, informa a reportagem do The Guardian.
Segundo o jornal, “ativistas, analistas e historiadores veem os casos contra Freitas como evidência de como uma cidade que orgulhosamente se autodenomina a ‘capital europeia do Brasil’ está mal preparada para lidar com um político negro desafiador”.
Entrevistado, Renato mostrou que não se intimida: “Eu entro com tudo — e isso incomoda muita gente”. Segundo o autor da matéria, na entrevista o deputado se apresentou “exibindo seu volumoso cabelo afro, vestindo uma camiseta do Malcolm X, shorts e tênis, e dando tragadas ocasionais de maconha durante uma entrevista com uma playlist de rap tocando alto em um alto-falante”.
A longa reportagem conta que durante sua primeira campanha eleitoral, em 2016, Renato foi preso sob a acusação de perturbação da paz por ouvir rap “alto demais” e, supostamente, desrespeitar o policial que o abordou. Como punição, ele foi espancado e deixado nu no corredor de uma delegacia antes de ser liberado.
O deputado contabiliza 16 prisões ou detenções e é apresentado como “uma voz de destaque contra a violência policial” no estado do Paraná, que, sob o atual governo de extrema direita, viu o número de assassinatos cometidos por policiais aumentar vertiginosamente .
O texto também fala da origem pobre de Renato, que foi criado pela mãe, empregada doméstica, em um bairro pobre perto do presídio onde seu pai estava preso, em Piraquara, a 21 km de Curitiba. Com o salário ganho como empacotador, ele pagou um curso preparatório e ingressou na faculdade de Direito, onde posteriormente obteve o título de mestre.
Ele ainda não definiu se vai se candidatar a um cargo de maior alcance, como prefeito ou governador. “É mais fácil se tornar presidente do Brasil do que ser prefeito de Curitiba, porque o país não é tão hostil a alguém como eu quanto esta cidade”, definiu Renato, ao The Guardian.