Não acredito em imparcialidade jornalística. Os que se dizem imparciais, nas verdade, são “parciais estratégicos”, que maquiam a sua parcialidade.
Muito teórico? Exemplifico. Vejamos a notícia do colega Bolsonarista Giovani, o BG, sobre uma recomendação do MP relativa ao prefeito de São Gonçalo, Eraldo Paiva.
BG noticia a recomendação do MP, no sentido de que Eraldo retire das redes sociais da prefeitura de São Gonçalo fotos suas, por suposta ofensa ao princípio da impessoalidade.
A notícia tem uma maquiagem de imparcial: há, supostamente, apenas a publicização de uma recomendação do Ministério Público. Mas, já ensinava Gadamer: não se interpreta desconsiderando o horizonte hermenêutico.
No horizonte hermenêutico do colega bolsonarista, há um histórico de críticas políticas deveras parciais a Eraldo, a quem, no calor da emoção, chegou a chamar de “ingrato”.
Nas entrelinhas, BG diz (sem dizer) que Eraldo estaria utilizando dinheiro público para promoção pessoal. É a tal da maquiagem, como quando, magistralmente, deu ampla publicidade a atos golpista, apoiando-os implicitamente sob o pretexto de “cobertura”. Genial!
Mas para um observador mais atento, é cristalina a intenção. Basta perceber que o BG, que critica Eral por mostrar que está fazendo pelo povo de São Gonçalo (veja que absurdo!), é o mesmo que dava o maior valor às motociatas com dinheiro público feitas por Bolsonaro (isto, sim, absurdo).
Eu, particularmente, não gosto desses expedientes, tenho cara e lado: o da democracia e da política popular.
Quanto à recomendação do MP, entendo como “excesso de zelo”, originado de uma interpretação jurídica dissociada da atual conjuntura das redes sociais.
Com efeito, o direito não existe apenas em tese, mas existe para regulamentar situações sociais, as quais, por meio da interpretação/compreensão/aplicação das normas (como diria Gadamer, novamente), acabam por influenciar a própria interpretação dos textos legais.
É por isso, por exemplo, que um mesmo texto normativo, com o decorrer do tempo, pode ter duas interpretações inclusive opostas. Cito, dentre tantos, o paradigma da união civil homoafetiva.
No caso em tela, não vejo ofensa ao princípio da impessoalidade no fato de um prefeito aparecer nas redes sociais da prefeitura que administra, prestando contas da gestão que vem realizando. Faz parte da política e da democracia.
Inclusive é o que que fazem exatos 99,99% dos prefeitos que tem Instagram. Mas BG lembrou logo de Eraldo…. Como eu disse, a tal da “imparcialidade maquiada”.