Ontem publiquei um vídeo do ex-ministro José Dirceu, no qual ele faz uma análise precisa da atual conjuntura política nacional, bastante similar à do RN.

Um dos aspectos da análise é o crescimento da extrema-direita e a dificuldade que a esquerda tem em combater isso.

Dirceu propõe um projeto de pelos menos 12 anos: primeiro se estanca o crescimento da direita, depois faz com que a esquerda cresça mais que a direita, para, após, construir uma conjuntura em que seja possível a realização de reformas estruturais.

Embora o ministro não tenha dito expressamente, a consequência lógica do raciocínio é que, se pensarmos apenas no agora, na manutenção de mandatos, confundido isso com aquisição de poder substancial, a direita continuará avançando, e nós estaremos cada vez mais distantes das reformas estruturais.

Dirceu está certo.

A sensação que tenho é que estamos apenas “seguindo o fluxo”, feito “bosta n’água”.

De um lado, os “fiscais de ortodoxia”, progressistas que combatem moinhos de vento e têm como principal objetivo a manutenção da “ortodoxia da esquerda”, mesmo que isso implique em perda de espaços de poder.

Do outro, os entreguistas, que já se esqueceram o que é ser de esquerda, e ficam apenas na manutenção do seu poder pessoal ou do seu grupo, utilizando-se, inclusive, de posturas que sempre criticaram.

Qual a saída, então? A que venho defendendo há tempos aqui: uma esquerda pragmática, que mantenha suas pautas, mas reformule o modo como as defende, adequando o discurso aos tempos e formas de mídia atuais.

Uma esquerda que não busque o poder pelo poder, agindo como se centrão fosse.

Uma esquerda que reconquiste o povo e as ruas, e que tenha projeto, planeje o futuro e não apenas o agora.

Uma esquerda que não viva num mundo paralelo, achando que as coisas são como eram há 20 anos.

Uma esquerda que esteja aberta a novos ares, a novas perspectivas, uma esquerda “em saída”, na direção ao povo, inclusive o despolitizado, e não apenas na direção de sindicatos, universidade e movimentos sociais e culturais.

Uma esquerda que tenha projetos sobre a ocupação de espaços de poder e efetivação de reformas estruturais.

Porque esquerda sem projeto não é esquerda.

É centrão.

E esquerda desconectada da realidade material também não é esquerda.

É um Dom Quixote que veste vermelho.

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