A série Black Mirror reflete, com certa náusea, sobre as repercussões morais causadas pelas novas tecnologias, seus novos formatos de mídia e entretenimento.

As situações retratadas na série, embora absurdas, geram angústia pela sensação de que, sim, eventualmente, “isso pode acontecer”.

“The Waldo moment”, por exemplo, conta a história de um “fantoche digital”, em forma de ursinho azul, que fez tanto sucesso ofendendo os candidatos de uma eleição que acabou ele mesmo disputando e conquistando uma vaga no Parlamento.

O que no início era tido como ridículo não só foi normalizado, como se tornou o “modo eficiente de se fazer política”.

Se fosse produzida no País de Mossoró, Black Mirror teria um episódio intitulado “O prefeito Pagangu Popstar”.

Como Aldo, feitas as devidas ressalvas, a atuação pública de Allyson é a de um personagem, convenhamos, ridículo.

Os socos no ar que dá são mais artificiais do que os de qualquer imitador “péba” de Pelé.

O chapéu de couro que usa (apenas quando há pelo menos um babão com um celular para tirar fotos) só não é mais artificial do que aquele de cangaceiro que Bolsonaro usou em 2022.

O modo como Allysson se comunica, coo um personagem caricato que busca ser popstar, é ridículo, mas vem sendo cada vez mais normalizado, especialmente pela atuação conjunta e quase militar do exército de babões.

O medo, agora, é o de que, como no Black Mirror britânico, pela aprovação popular, essa forma ridícula de agir publicamente passe a ser o “padrão dos políticos de sucesso”, sempre numa performance de entretenimento, milimetricamente pensada.

Só falta Allysson, no futuro, intitulando-se “Coach do Chapéu de Couro”, anunciar o curso “Como ser um Prefeito Papangu Popstar e adquirir 6 dígitos de babões em 7 dias”.

Assim como em Black Mirror, eu não duvido. E tenho náusea.

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