O caso da capivara Filó, que tem repercutido nas redes sociais nos últimos dias, culminou na invasão de uma sede do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais). Para o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, a reação é de bolsonaristas indignados com as operações de combate à madeira e gado ilegal no Amazonas. “A rede bolsonarista está usando essa situação para atacar a gente”, disse, à Folha de S.Paulo.

Agostinho destaca que esse tipo de ação coloca em risco a vida de animais ameaçados de extinção que estão no local para reabilitação. “Estão atacando o Ibama porque temos muitas ações no Amazonas, de embargo de áreas desmatadas, apreensões de gado em terra indígena, em unidade de conservação. Esse caso acabou servindo para tentarem desqualificar o trabalho”, acrescentou.

De acordo com o presidente do Ibama, a capivara Filó, que foi apreendida na última quinta-feira (27), seria devolvida ao seu habitat natural após o feriado desta segunda (1º). O animal vivia com o youtuber Agenor Tupinambá, que foi autuado porque a lei brasileira príbe “exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais”.

O caso dividiu opiniões na web e chegou a perfis famosos, como a ativista Luísa Mell e os bolsonaristas Mário Frias, ex-secretário de Cultura de Jair Bolsonaro (PL), e as deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF).

Desde sábado (29), dia em que Agenor conseguiu visitar Filó por conta de uma liminar, manifestantes estão protestando em frente ao Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres) do Ibama, em Manaus. Já no domingo (30), uma nova liminar determinou a devolução da Capivara a Agenor e a deputada estadual Joana Darc (União Brasil) chegou a invadir o local, agredindo verbalmente servidores do Ibama, que registraram um boletim de ocorrência.

“Ali não é um hospital para visitação de pacientes. Temos a questão ainda que era o infrator visitando o objeto da infração”, disse Agostinho. Sobre os vídeos em que a parlamentar afirma ter encontrado medicamentos vencidos, ele explicou que são remédios para descarte e que o Ibama não vacina animais silvestres.

“Temos naquela unidade, em processo de reabilitação, alguns saguis de Manaus, uma espécie endêmica da região e que é um dos dez macacos mais ameaçados de extinção no mundo. Eles estão ali para serem devolvidos à natureza e sofreram com o estresse. Aquele espaço não é feito para ter uma multidão de pessoas gritando em volta, muito menos dentro”, reclamou.

O presidente do instituto disse ainda que a gestão de Jair Bolsonaro (PL) sucateou diversos centros pelo país e o órgão planeja reformar a unidade de Manaus e reabrir a de Belém: “Chama atenção ver protetores de animais estão defendendo a pessoa e não o bem-estar do animal. Nas redes, não estão preocupados com um destino adequado para a capivara, com onde ela vai ser solta, se encontramos uma família de capivaras para ela”.

Ainda sobre o caso de Filó e Agenor, Agostinho completou: “Ele alimentou um filhote de bicho preguiça com frutas, sendo que o bicho preguiça não come frutas, e depois o animal acabou morrendo. Aquilo não é um caso de animais dentro de uma aldeia, a capivara estava sendo criada dentro de casa. Nem duvido que ele gostasse dela, mas não dá para normalizar a humanização excessiva de um animal silvestre, ultrapassou todos os limites”.

Ele também pontuou que, nos últimos dias, fez registro de mais 20 casos em que pessoas utilizavam animais silvestres para conseguir engajamento nas redes sociais.

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