Cleber Lourenço/ICL Notícias – O relatório final da Polícia Federal traz detalhes sobre as interações entre Jair Bolsonaro e o advogado norte-americano Martin de Luca, representante do Rumble e da Trump Media. A PF destaca que, em meio a orientações sobre notas públicas e alinhamento de narrativas contra o Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente brasileiro chegou a celebrar a decisão de Donald Trump de impor tarifas de até 50% contra produtos brasileiros, mesmo sabendo que a medida teria impactos diretos na economia nacional.
Em um áudio incluído no documento, Bolsonaro afirma: “Martin, peço que você me oriente […] Eu fiz uma nota, acho que eu te mandei. […] elogiando o Trump, falando que a questão de liberdade tá muito acima da questão econômica. […] fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias”. A fala do ex-presidente explicita não apenas a sua disposição em seguir sugestões externas, mas também sua preferência por uma agenda política de enfrentamento, ainda que em detrimento da defesa dos interesses nacionais.
Esse trecho revela um paradoxo profundo: enquanto setores da indústria e da agricultura brasileira poderiam perder competitividade internacional, com fábricas ameaçadas de fechar e exportadores enfrentando barreiras adicionais, Bolsonaro comemorava como se fosse um gesto de apoio pessoal. Na prática, a medida poderia significar o fechamento de postos de trabalho, perda de renda em cadeias produtivas que dependem de exportações e impactos duradouros em regiões do país que vivem da indústria de base e do agronegócio.
O relatório lembra que a resposta de Martin de Luca foi imediata. O advogado prometeu enviar “ainda naquele dia” um resumo sobre como Bolsonaro deveria “melhorar a comunicação em relação ao tarifaço”. Para os investigadores, a submissão da comunicação do ex-presidente às orientações de um advogado estrangeiro evidencia um elo que vai além da troca de informações, configurando alinhamento político-ideológico e até estratégico. Trata-se de um comportamento que reforça a influência externa sobre o discurso interno de Bolsonaro, sobretudo em temas de impacto direto na soberania econômica brasileira.
Bolsonaro
Bolsonaro priorizou sua agenda em detrimento dos interesses do Brasil
A postura é considerada pela PF como um exemplo claro de como o ex-presidente priorizava sua agenda de confronto com instituições brasileiras, especialmente o Supremo Tribunal Federal, em vez de defender os interesses de trabalhadores brasileiros. Ao relativizar as consequências econômicas de uma decisão de outro país e colocar a retórica da “liberdade” acima da proteção ao emprego e à renda nacionais, Bolsonaro se distanciou do papel esperado de um ex-chefe de Estado.
Em outra mensagem registrada no relatório, Bolsonaro compartilhou com De Luca um vídeo em que Donald Trump justificava a aplicação das tarifas contra o Brasil, reafirmando sua gratidão pessoal ao republicano. Essa manifestação, classificada pela PF como simbólica e reveladora, reforça a imagem de um ex-presidente que celebrava políticas que poderiam resultar em aumento do desemprego, redução do poder de compra e deterioração da competitividade brasileira no cenário internacional.
A análise da PF conclui que os diálogos evidenciam um alinhamento ideológico em que Bolsonaro se mostrava disposto a aceitar prejuízos para a economia brasileira desde que pudesse transformá-los em retórica política contra adversários internos. A celebração de uma medida que ameaça milhares de empregos e coloca em risco setores estratégicos, como a indústria e o agronegócio, ilustra um comportamento que confronta diretamente a ideia de defesa da pátria e do bem-estar da população.