Por João Filho, do Intercept – “ESPECIALISTAS DIVERGEM se é crime trama de Bolsonaro”. Foi com essa manchete que a capa da Folha amanheceu na segunda-feira de carnaval. Depois de uma semana em que se revelou uma pororoca de provas da tentativa de golpe escapando pelas mãos da Polícia Federal, o jornal tentou emplacar no debate público uma falsa controvérsia.
Parece inacreditável, mas a reportagem que recebeu essa manchete não mostra especialistas divergindo. Absolutamente nenhum dos consultados afirmou não haver crime na “trama de Bolsonaro” como afirmou a manchete.
O professor de direito penal Luís Greco, respeitadíssimo na área, fez uma análise em cima da reunião que Bolsonaro teve com ministros três meses antes da eleição. Diz a reportagem: “Ele entende que, a princípio, as reuniões sozinhas nunca serão tentativa destes crimes [golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito], mas que, junto com outros elementos, é possível que haja essa configuração“.
Ou seja, isso significa que a manchete inventou a existência de uma polêmica entre especialistas sobre a ilegalidade da “trama de Bolsonaro”. Ora, é evidente que essa “trama” não se restringe à reunião ministeriall.
Malandramente, a manchete utilizou um fragmento da análise de um único especialista sobre uma reunião isolada, descartou um contexto farto de provas e estampou em letras garrafais a existência de uma grande controvérsia entre especialistas sobre a tentativa de golpe de Bolsonaro. Registre-se que nem o especialista nem a jornalista que assina a reportagem são responsáveis pelo enquadramento dado pela manchete. Essa malandragem vai toda para a conta dos editores.
O fato é que não há nem sequer um especialista sério que olhe para o conjunto da obra e diga que não houve uma tentativa de golpe no Brasil no ano passado. As investigações da Polícia Federal mostram que há numerosas e incontestáveis provas materiais de que Bolsonaro e sua turma tentaram um golpe de estado nos últimos meses de mandato.
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