Nesta terça-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou pela primeira vez sobre o impasse na eleição presidencial na Venezuela, realizada no domingo. Lula sugeriu que, para “resolver a briga”, as autoridades locais devem apresentar as atas de votação. O presidente, no entanto, afirmou estar convencido de que o processo é “normal”.

Lula fez essas declarações em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso, na manhã desta terça-feira.

“É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata”, disse Lula. “Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar”.

Após as eleições presidenciais realizadas no último domingo, o presidente Nicolás Maduro foi anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela como vencedor do pleito e apto a exercer seu terceiro mandato, no período de 2025 a 2030. Ele foi proclamado vitorioso, segundo o CNE, com 51,21% dos votos contra 44% de Edmundo González, o segundo colocado. O resultado foi questionado pela oposição, que alegou fraude nas urnas.

O Brasil e outros países ainda não reconheceram o resultado. Lula chamou as eleições no país de “processo normal”:

“Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo, o que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo”, proseguiu o presidente. “O Tribunal Eleitoral reconheceu o Maduro como vitorioso, e a oposição ainda não. Então, tem um processo. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial, mas não tem nada de anormal. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Tem uma eleição, tem uma pessoa que disse que teve 41%, teve outra pessoa que disse que teve 50%, entra na Justiça e a Justiça faz.”

Lula disse que é “obrigação” reconhecer o resultado das eleições após a divulgação das atas.

“Na hora que forem apresentadas as atas e for consagrado que as atas são verdadeiras, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela. Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver, mais chance de tranquilidade para governar a Venezuela ele terá”, ponderou Luiz Inácio Lula da Silva. “Acho que é preciso acabar com a ingerência externa em outros países. A Venezuela tem o direito de construir seu momento de crescimento sem que haja bloqueio”.

As atas são os dados desagregados por mesa de votação. O Itamaraty considera que isso é um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

Nesta segunda-feira, o Itamaraty orientou a embaixadora do Brasil na Venezuela, Gilvânia Maria de Oliveira, a não comparecer à proclamação de vitória de Nicolás Maduro. A instrução foi dada pelo chanceler Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores.

O assessor especial Celso Amorim voltou ao Brasil nesta terça. Ele acompanhou as eleições no fim de semana.

Amorim foi enviado por Lula a Caracas para acompanhar o pleito. O assessor especial do presidente afirmou ao Globo que a falta de transparência “incomoda” e que esperava os “dados necessários” para se pronunciar sobre o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que apontou a vitória de Nicolás Maduro.

Amorim retorna ao Brasil nesta terça-feira e a previsão é que o encontro com Lula ocorra até amanhã.

No comunicado, o Itamaraty citou “o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”. O órgão brasileiro disse aguardar a publicação pelo CNE de “dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

Já o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, expressou sua “séria preocupação” de que o resultado eleitoral anunciado na Venezuela não reflita a vontade do povo. Pouco antes, Blinken havia pedido uma recontagem “justa e transparente” dos votos nas eleições presidenciais da Venezuela.

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