Bolsonaro está enfronhado no poder central há quase quatro anos e não são poucas as pessoas que desejam sua manutenção na cabeceira do País. Por isso, chegou a hora de perguntar a essa turma quais foram as grandes realizações do seu governo, capazes de justificar uma aposta no segundo mandato do presidente.
Não é um questionamento dirigido à patota que aplaude o capitão-mor por pura repulsa à esquerda. Essa vive na bolha ideológica das suas próprias verdades. Reporto-me à parcela dos eleitores formada por indivíduos que sabem conjugar o verbo pensar. Daí a pergunta: o que será que essa rapaziada enxerga no presidente quando reflete sobre as ações governamentais dirigidas à educação, à saúde e à economia?
Começando pela educação, que sempre foi tida por todos, da esquerda à direita do espectro político, como o principal problema do Brasil, o que se viu no curso do atual governo foi a diminuição drástica do repasse de verbas às instituições de ensino. Nenhuma política pública de impacto. Noves fora isso, somente as inaceitáveis exonerações de quatro ministros da educação ao longo do mandato presidencial. Algo como o dirigente de um time de futebol que, sem vencer partidas, estando perdidinho da Silva, demite um treinador a cada 6 meses.
O que dizem sobre isso, os eleitores do presidente?
Na saúde, o descarrilhamento do trem parece ter sido ainda maior. Bolsonaro exonerou três ministros durante uma das piores crises sanitárias da história. Nesse meio tempo ele, propositadamente, atrasou a vacinação, promoveu o negacionismo da doença – a tal gripezinha – e propagou o uso do chamado kit covid desacreditado por todo o mundo civilizado, contribuindo para a morte de mais de 600 mil pessoas.
Pergunto novamente: o que dizem os eleitores do presidente?
Já na economia, o ministro Paulo Guedes, considerado pelo chefe do executivo como uma espécie de Milton Friedman tupiniquim, prometeu mais do que devoto em romaria a Juazeiro do Norte, mas sequer foi capaz de diminuir o preço do botijão de gás. Nada de zerar o déficit público em um ano e de aplicar uma agenda de reformas estruturais. As privatizações na Petrobrás, por sua vez, não significaram o refreamento da alta do combustível mesmo antes do início da Guerra da Ucrânia; a inflação brasileira aumentou e é a terceira pior entre as nações do G-20; e o valor da cesta básica subiu de maneira pornográfica, com o perdão do trocadilho.
E o que dizem os eleitores do presidente?
Algum apressadinho, diante de tudo isso vai, finalmente, dizer que Bolsonaro pode até não ter feito nada para melhorar a economia, a saúde e a educação do Brasil, mas também não dormiu na cama da corrupção, o que já seria muita coisa. Nesse caso, ou esse sujeito desconhece as negociatas realizadas por pastores no Ministério da Educação, a compra de cloroquina superfaturada pelo Ministério da Saúde, o orçamento secreto, além da entrega, pelo presidente, de boa parte do cofre público ao fisiologismo do centrão; ou então ele não joga ao lado da turma dos indivíduos capazes de avaliar criticamente a realidade, sendo mais um eleitor que clama pelo segundo mandato do capitão-mor de dentro da jaula de suas autoilusões.
Sobre o autor:
Daniel Costa. Advogado. Doutorando em ciências sociais – CCHLA/UFRN.
Mestre em ciências sociais – CCHLA/UFRN.Especialista em Direito Processual Civil – Laureat International Universities\UNP.
Pesquisador Convidado do Grupo Felicidad – Direito/CCSA/UFRN.
Membro do Grupo de Pesquisa Poder Local, Desenvolvimento e Políticas Públicas – GDPP/PPGS/UFRN.
Membro da Comissão de Direito Processual Civil da OAB/RN.