Moisés Mendes/DCM – Começa agora, antes mesmo da condenação de Bolsonaro e de seus comandados do núcleo golpista, a próxima etapa do roteiro que vai sendo ajustado às circunstâncias pelo fascismo, mesmo que aos trancos e barrancos.
E o que vem aí, quando se completam sete anos de cerco da extrema direita, pode ser mais fascismo e em estágio mais avançado. Porque se intensifica agora a obra de reconstrução do bolsonarismo sem Bolsonaro.
Mesmo que as esquerdas tentem negar, a base política que sustenta essa gente é mais forte do que o lastro político a serviço da democracia. Tem mais representação parlamentar, mais potencial de votos e mais engajamento orgânico.
O cenário só não é pior pela bravura de Alexandre de Moraes, muito mais do que do Supremo. O fascismo tem perspectiva de poder que a esquerda acha que tem, porque sonega a si mesma a verdade de que só continua viva por causa de Lula.
Eles poderão existir sem Bolsonaro e até fortalecer e renovar retórica e ação. Poderão preparar uma situação em que, por imitação do que Trump fez, consigam retornar ainda mais cruéis, violentos, odientos e efetivos.
E nós? Nós temos Lula e Moraes, mas não temos mais a vitalidade da universidade, dos professores, dos estudantes, dos sindicatos e das comunidades organizadas nas periferias.
Numa das poucas intervenções com algum fundamento sobre a situação brasileira, no Roda Viva, no mês passado, Steven Levitsky, o teórico do fim das democracias, disse que um problema sério do Brasil é o déficit de intervenção da sociedade organizada nas decisões políticas.
Levitsky disse obviedades e chutou meia dúzia de bolas fora sobre o Brasil, mas alertou que as forças da política formal, de governo ou de representação legislativa, não conseguem enfrentar sozinhas os que conspiram contra a democracia.
Esse é o déficit do Brasil desde o golpe contra Dilma. E a extrema direita sabe explorá-lo. As expectativas de resistência política e de poder das esquerdas dependem de Lula, como já dependeram da imposição de Moraes na condução da eleição e dependem agora no cerco aos golpistas.
[Continua no site]