Cresce rejeição a Carlos Eduardo na chapa governista
Começa a costura do óbvio: vários setores do governismo se articulam para substituir a candidatura de Carlos Eduardo na chapa liderada por Fátima Bezerra. Tudo isso para o bem de Fátima.
Já circula entre jornalistas potiguares a notícia de que a presença do ex-prefeito de Natal na chapa governista está ameaçada. Os partidos têm até o dia 5 de agosto para realizar suas convenções; até lá, Carlos Eduardo não tem nenhuma garantia de que terá apoio para seu intento de ascender ao Senado.
Gustavo Negreiros, analista político alinhado ao bolsonarismo, publicou: “Tem algo que une fortemente o PSB de Rafael Motta e o PT de Natália Bonavides e Jean-Paul, derrubar a candidatura do Camarada Carlos (ex-Carlos Eduardo)”.
Negreiros chega a se referir a uma “missão” para convencer a liderança nacional do PT a considerar novos nomes para a disputa ao Senado. Fontes ouvidas pelo Debate Potiguar confirmaram que há movimentação de atores políticos importantes para ir a São Paulo falar diretamente com Lula sobre o assunto.
Faremos ao longo das próximas semanas uma série de artigos analisando o quadro eleitoral do RN, especialmente as perspectivas para o Senado. Por ora, vamos nos limitar a expôr alguns fatores que apontam para o fato de que a substituição de Carlos Eduardo na chapa seria benéfica à corrida de Fátima para a reeleição.
A governadora já declarou a mais de um interlocutor que sua intenção principal ao escalar Carlos Eduardo para a chapa governista era evitar que o prefeito de Natal renunciasse para concorrer ao Governo. Álvaro Dias era visto como o principal oponente em condições de derrotar Fátima em outubro. Ocorre que a vice-prefeita de Natal é apadrinhada política de Carlos Eduardo. Renunciando, Álvaro não contaria com o vital apoio da Prefeitura de Natal para sua candidatura e para o projeto prioritário de eleger seu filho Adjuto Dias deputado estadual. Eis o papel de Carlos Eduardo na montagem da chapa.
Ocorre que o prazo para a renúncia se encerrou, e Álvaro permanece à frente da Prefeitura. Carlos Eduardo não tem mais o que acrescentar. Sua candidatura agora se sustenta apenas na promessa da governadora, que tenta contra todas as resistências internas manter a palavra dada.
Outro fator importante é o fator Jean. Lideranças nacionais do PT e a própria governadora entraram em campo para evitar que Jean buscasse outro partido para concorrer à reeleição. O senador acabou convencido, aceitando a suplência de Carlos Eduardo. Mas ao contrário do que esperavam os planejadores da chapa, o gesto de Jean acabou por incendiar as bases.
Em entrevista dada à jornalista Micarla de Souza, Jean reafirmou seu compromisso e lealdade ao PT, anunciando que ficaria no partido e aceitaria não ser candidato este ano. Sua atitude só fez reforçar o desejo da militância petista de ter um candidato alinhado ao projeto nacional do partido para concorrer ao Senado. Jean foi tratado no mínimo de forma descortês durante as discussões para a montagem da chapa do governo. Chegou a passar por uma tentativa de fritura na qual alguns ainda insistem. Contudo, saiu do processo fortalecido, mais liderança e mais identificado com a militância petista do que nunca antes.
Ainda pesa contra Carlos o fato de não gozar da confiança do eleitorado petista, não gozar de confiança no meio político. Um dirigente do PT declarou ao Debate Potiguar “em Jean você pode confiar, mas em Carlos Eduardo é possível confiar?” Ninguém esquece que em 2018 Carlos Eduardo atacou o PT e pediu votos para Bolsonaro.
A pesquisa IPESPE divulgada nesta semana pela Tribuna do Norte demonstra a desconfiança do eleitorado petista em relação a Carlos Eduardo. Apenas 34% dos eleitores de Fátima e 30% dos de Lula declararam votar no ex-bolsonarista de segundo turno.
A mesma pesquisa mostra que a polarização entre Carlos Eduardo e Rogério Marinho não empolga o eleitorado. 73% não sabem em quem votariam e 13% votariam nulo, somando 86% os que não manifestaram espontaneamente a intenção de votar em qualquer dos candidatos ao Senado.
Na espontânea, Carlos Eduardo tem 6%, seguido de Rogério Marinho, com 4% e Jean Paul, 3%. Empatados com 1% das menções aparecem a atual senadora Zenaide Maia (PROS) e Rafael Motta. A pesquisa reacendeu em muitos a convicção de que Jean ou Rafael seriam nomes melhores para enfrentar o candidato de Bolsonaro, Rogério. “Ganhar e levar, e não ganhar pra depois perder”, disse a fonte do Partido dos Trabalhadores.
Para piorar tudo, como já noticiamos aqui no Debate Potiguar, Carlos Eduardo tentou cooptar lideranças do PSB numa tentativa desesperada de montar uma chapa para deputado federal no PDT, algo que a direção nacional do partido exige (a chapa, não o assédio aos candidatos do PSB, que fique claro). Embora aja com a habitual elegância, o fato é que a cúpula do PSB está descontente com as atitudes do ainda candidato a senador.
Carlos Eduardo se tornou um problema enorme para Fátima Bezerra. Presa à palavra dada, a governadora não pode recuar. A solução que agora se busca é uma ação nacional nas negociações, retornando ao plano inicial de compôr com Garibaldi, aceitando a indicação do vice. Para o Senado haveria duas opções, o deputado federal Rafael Motta e o próprio senador Jean Paul. Sairia candidato aquele que mostrasse melhores condições de vencer o pleito.