Esses dias deu vontade de comer um Big Mac.

Um amigo me contestou: “sendo tão de esquerda, você não deveria comer, já que Mcdonald’s é um dos símbolos do capitalismo!”

Eu respondi: “Errado seria comer só, mas acompanhando da ‘lama negra do capitalismo’, uma Coca bem gelada, aí não tem problema!”

Esse discurso do meu amigo tem uma dupla finalidade de dominação.

A primeira é dominar pelo constrangimento: fazer com que quem é de esquerda ou não consuma determinados produtos e serviços ou deixe de ser de esquerda.

A segunda, mais sutil, é afastar a esquerda das massas.

Respeito quem não consome tais produtos por uma questão política, mas discordo totalmente de quem transforma isso numa pauta pública, na condição de protesto contra as injustiças do capitalismo.

Primeiro, porque isso é tão eficaz para acabar com as injustiças do capitalismo quanto fazer xixi no chuveiro para economizar a descarga é eficaz para acabar com a seca no nordeste.

Segundo, porque valida o discurso da direita, correndo o risco que pessoas do “povão” eventualmente pensem: “se eu gosto tanto desses produtos, e se quem é mais à esquerda diz que isso é imoral, não devo ser de esquerda”.

Um dia o capitalismo será superado, como todos os outros sistemas econômicos anteriores. Mas no atual momento da história, ele é inevitável.

Querer convencer o povão a não consumir determinados produtos por serem “símbolos” do capitalismo, além de não ser capaz de reduzir as injustiças do sistema, tende a afastar a esquerda das massas, tornado-as acessíveis à direita e dificultando a construção de projetos políticos de esquerda eleitoralmente competitivos, por meio dos quais seria possível a ocupação de espaços e luta para a redução efetiva das citadas injustiças.

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