Por @silverioalvesfilho

“Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade”. Assim inicia o livro do bíblico do Eclesiastes, atribuído ao rei Salomão.

No primeiro capítulo, ele faz uma reflexão sobre a fragilidade da vida humana e das possibilidades de um governante.

Vaidade é, efetivamente, uma das grandes fraquezas que pode ter quem governa.

Para Maquiavel, porém, a vaidade não era algo necessariamente ruim, desde que não atrapalhasse a capacidade de governar do príncipe.

Maquiavel compreendeu como poucos a natureza da política de sua época, a alma dos governantes e dos governados. O príncipe ideal seria aquele que, para se manter vivo e forte, deveria fazer o que tivesse de fazer, com pragmatismo e frieza.

Há, nesse ponto, nítida distinção entre Salomão e Maquiavel. Mas, para este artigo, ambos têm a sua parcela de contribuição.

Durante o governo Bolsonaro, o presidente mostrou-se vaidoso, intransigente. Tudo era do seu jeito, e do seu jeito somente.

Quebrou liturgia do cargo, disse que fecharia emissora de TV, e seus filhos, sob o seu incentivo implícito, ameaçaram o STF. Atitudes explicadas, dentre outros fatores, pelo controle que a sua vaidade exercia sobre as suas atitudes, gerando a sensação de que “tudo pode aquele que governa”.

Foi por isso que justificou a indicação de André Mendonça ao STF com o fato de ele ser “terrivelmente evangélico”. Evidentemente o fato de ele ser evangélico não deve ser tido como problema, e Mendonça também tem seus atributos, mas o modo como o presidente o descreveu demonstra um deboche desnecessário, regado a vaidade.

Aí vem Lula.

Diziam que o Congresso iria derrubá-lo logo. Que em pouco tempo a economia estaria destruída. Que ele iria perseguir os evangélicos.

Até o momento, Lula venceu todas no congresso. A economia melhorou. Não há notícia de perseguição aos evangélicos.

Lula agora indica o seu advogado pessoal para Ministro do STF. O que, em tese, poderia ser tido como um absurdo (eu até acho que seja). Mas Lula não debocha dos adversários.

Zanin, em sua sabatina, defende pautas conservadoras e acena para adversários de Lula (com a concordância do presidente, por óbvio). As manchetes deixam de ser “Lula indica advogado pessoal” e passam a ser “Zanin defende pautas dos evangélicos”.

Pragmático, Lula sabe que é irrelevante que Zanin defenda pautas conservadoras na sabatina, o que importa é ele sentar na cadeira do STF. Lula não se importa em externar que “sente que tem poder”, debochando dos adversários, como Bolsonaro. Ele se importa mesmo é em ter poder. Como de fato tem, por isso é presidente pela terceira vez, mesmo após ter sido tornado inelegível e preso.

É nítida superioridade estratégica de Lula em relação a Bolsonaro, que me faz lembra uma estrofe da música “Vamos Voltar à Realidade”, do MC Marechal:

Cada vez que o ego inflar, tu se sentir o fodão


Não esquece que o poder não tem haver com sensação


Estudam o teu sentimento, exploram tua emoção


E se eles sabem o que tu sente podem prever sua reação.

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