Brasil 247 – Em entrevista à jornalista Denise Assis, na TV 247, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, conhecido como o “pai do programa nuclear brasileiro”, denunciou as arbitrariedades cometidas contra ele durante a Operação Lava Jato. Othon foi condenado a 43 anos de prisão pelo então juiz Marcelo Bretas, mas sua pena foi posteriormente reduzida para três anos de medidas restritivas.

Ao longo da conversa, o almirante relatou os impactos da prisão e revelou que foi alvo de uma perseguição política e judicial. “Eu estava condenado antes mesmo de ser julgado”, afirmou. Segundo ele, a decisão judicial foi fabricada para servir de exemplo. “Um delegado me mandou uma carta anônima dizendo que a gravação no computador do advogado mostrava que iam me dar 43 anos para os outros saberem que ‘eu jogo pesado'”.

Othon detalhou o momento da prisão, realizada de forma violenta. “Bateram na porta, eu estava dormindo. Empurraram a porta e pularam dois caras em cima de mim. Depois disseram que eu resisti. Como eu poderia resistir, dormindo?”, relatou. “Do Rio de Janeiro, fui levado para Curitiba e colocado em uma cela do Exército. Depois, fui transferido para Bangu.”

Durante o período de encarceramento, o almirante revelou ter sido levado ao limite emocional, culminando em uma tentativa de suicídio. “Quando o Bretas me deu uma sentença de 43 anos, minha filha também foi atingida, pois a perseguiram financeiramente. Isso me revoltou. Peguei um cinto, preparei uma corda para me enforcar. Mas havia uma câmera oculta e uma oficial viu. Se ela chegasse cinco minutos depois, eu estaria morto”. Othon reconhece que, se tivesse conseguido, a versão oficial poderia distorcer os fatos. “Iam dizer que foi uma confissão, igual ao japonês arrependido. Mas eu não me arrependo de nada”.

Ele apontou que sua condenação se deu pelo avanço do Brasil no enriquecimento de urânio e na independência tecnológica. “Eu fiz algo que não deveria ter feito. O enriquecimento de urânio é algo muito sensível internacionalmente. Desenvolvemos tudo: sensores, medidores, válvulas. E o Brasil passou a enriquecer urânio a um preço competitivo. Isso incomodou muita gente”.

Apesar da injustiça sofrida, o almirante afirma que não guarda rancor. “Minha tia dizia que rancor é como uma brasa que você carrega na mão para jogar nos outros, mas queima sua própria mão. Então, eu deletei”. Sobre os juízes que o condenaram, ele ironiza: “Vi o Bretas ser afastado e o Moro ser julgado parcial. Mas eles continuam ganhando”.

Othon finalizou a entrevista relembrando sua história e os desafios que enfrentou, incluindo os dias que passou em prisão e a perseguição financeira que segue até hoje. “Mais da metade do meu salário vai para pagar advogado. Vivo contando moeda”.

Atualmente, ele finaliza um livro onde detalha sua trajetória e as dificuldades que enfrentou. “Escrevi enquanto estava preso. Agora, meu advogado está com o material. No futuro, talvez eu escreva outro, sem nomes, apenas sobre as dificuldades”. O almirante, no entanto, não perde a resiliência. “Eu continuo tocando o barco, como velho marinheiro”.

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