ICL Notícias – O governo argentino anunciou que vai intervir no mercado de câmbio em meio à forte queda de seus ativos financeiros e ao aumento da pressão política sobre o presidente Javier Milei, às vésperas de uma eleição decisiva neste domingo (7).
A medida representa uma guinada na estratégia oficial, já que a administração vinha defendendo a livre flutuação do peso dentro das bandas estabelecidas em acordo com o FMI. Agora, a equipe econômica adota um tom mais intervencionista para tentar conter a volatilidade.
Segundo o secretário de Finanças, Pablo Quirno, a atuação do Tesouro tem como objetivo garantir “liquidez e funcionamento normal” no câmbio. Para segurar a moeda, o governo elevou juros, endureceu exigências de reservas e ampliou restrições cambiais.
Mesmo assim, o mercado reagiu mal. Os títulos soberanos com vencimento em 2035 recuaram para o menor nível desde abril, enquanto o peso argentino perdeu até 2,8% no pregão, fechando em queda de 1,6%.
Irmã de Milei estaria envolvida em esquema de cobrança de propinas
Especialistas afirmam que o câmbio nunca foi totalmente livre, apontando o que chamam de “flutuação suja”, já que o governo interveio em contratos futuros sempre que o dólar se aproximou de 1.300 pesos. A situação contrasta com declarações recentes do próprio Milei, que havia dito que a moeda estaria próxima ao piso da banda, em torno de 600 pesos — expectativa que não se concretizou.
A percepção de risco se agrava em meio a denúncias de corrupção que envolvem a irmã do presidente, Karina Milei. Áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis e ex-advogado de Milei, indicam um esquema de cobrança de propinas em contratos de medicamentos, no qual Karina e aliados próximos seriam beneficiados. A crise levou à demissão de Spagnuolo e a uma decisão judicial proibindo a divulgação das gravações feitas dentro da Casa Rosada.
Impacto eleitoral
Além das turbulências econômicas, o governo também enfrenta reveses políticos. O candidato apoiado por Milei na província de Corrientes terminou apenas em quarto lugar na eleição do último fim de semana, evidenciando a dificuldade da estratégia de concorrer sem alianças regionais.
Agora, as atenções se voltam para a votação em Buenos Aires, província que concentra quase 40% da população e historicamente tem votado em candidatos do peronismo. O resultado será acompanhado de perto por investidores, pois deve indicar o rumo das eleições legislativas de outubro.