Como não sou adepto da falsa imparcialidade pregada por alguns setores da mídia, não me sinto constrangido em dizer que tenho cara e lado: o da democracia e da política popular.

Pelo risco que corria a frágil democracia brasileira, em 2022 eu “dei o sangue” na campanha, fui para a batalha e “dei a cara à tapa”.

O momento não era fácil: o eleitor médio de Lula era tímido, com medo da polarização; o eleitor médio de Bolsonaro era barulhento, instigado com a polarização.

Por isso, quem votava em Lula e se aventurava em “colocar a cabeça para fora” tornava-se alvo de fortes críticas nas redes sociais. Eu fui um desses.

Um dos pontos que mais batiam em mim tinha a ver com o fato de que, visualmente, eu “não pareço um esquerdista militante”.

Chamavam-me playboy e falso cristão, por “votar em quem é contra os valores morais”.

Amigos se afastaram; por minha postura, o Blog do meu pai, que é o principal veículo de comunicação do Potengi, perdeu seguidores e foi muito criticado, mesmo meu velho sendo de centro; pessoas que diziam que admiravam nosso trabalho vinham até mim para dizer que não admiravam mais.

Doeu, não pelas críticas em si, mas porque algumas delas partiam de pessoas boas que eu respeitava, mas que estavam com a percepção embaçada pela polarização ideológica, que lhes impossibilitava de “separar uma coisa da outra”.

Não foi fácil, mas não me arrependo. Esse era um preço que eu estava (e a ainda estou) disposto a pagar.

E aí, há exatamente um ano, a democracia venceu e, com ela, eu também que a defendi.

O povo, aquele que não mostrava a cara, finalmente mostrou nas ruas, sem timidez.

Corri à minha casa, em São Paulo do Potengi, e peguei meu drone para filmar a passeata histórica.

Embora eu defenda que o presidente deve governar igualmente para todas as pessoas, independentemente de em quem votaram, naquele dia, especificamente, eu me permiti “tirar onda” com os que me chamavam de “playboy hipócrita”.

Coloquei meu boné do MST, vesti minha polo Lacoste (falsa, evidentemente) e fui para a principal praça da cidade, cobrir a festa.

Após publicar o vídeo da cobertura nas redes sociais, vieram me dizer que estavam compartilhando nos grupos de whatspp essa foto minha, chamando-me “playboy do MST”.

Àquela altura, as críticas não faziam nem mais cócegas.

Eu estava “anestesiado” pela vitória da democracia.

E também, é claro, pela “cana grande” que eu tomei em comemoração, vestindo meu boné do MST e minha polo Lacoste falsa.

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