A Petrobras completou 70 anos, na última terça-feira, dia 3 de outubro, com um olhar cada vez mais voltado para o futuro. E esse futuro está nas energias renováveis, como explica o presidente da companhia, Jean Paul Prates. “A Petrobras tem tudo para liderar a transição energética e aproveitar a oportunidade única do Brasil ser o maior centro de energia renovável do mundo”, afirmou ele, que esteve na sede do Grupo A TARDE na sexta-feira. Esse caminho será percorrido sem que a empresa abra mão da produção de petróleo, conforme explicou Prates. “Estamos preparando a Petrobras para o futuro”, diz ele, nesta entrevista exclusiva, na qual critica também a privatização das refinarias, a exemplo da Landulpho Alves, e fala sobre política de dividendos e planos para eventual compra da Braskem, dentre outros assuntos. Prates veio a Salvador para participar do evento comemorativo do aniversário da empresa, realizado na Casa Baluarte, no Santo Antônio Além do Carmo. 

O senhor já manifestou o compromisso da Petrobras com a transição do Brasil para uma matriz energética de baixo carbono. Na prática, como a empresa vai conciliar o foco atual em óleo e gás com a diversificação do portfólio em fontes de energia renovável?

A Petrobras tem tudo para liderar a transição energética e aproveitar a oportunidade única do Brasil ser o maior centro de energia renovável do mundo. Vamos fazer isso de forma gradual e responsável, investindo em novas energias e sem abrir mão, de uma hora para outra, da produção de petróleo, pois ainda precisamos dessa energia para abastecer o País com segurança e para gerar recursos para novos investimentos, inclusive em energias renováveis. E vamos produzir petróleo com as menores taxas de emissão de gases do efeito estufa. Nossa produção já está entre as mais descarbonizadas do mundo. Ao mesmo tempo, vamos buscar o desenvolvimento de novos produtos, para usos mais nobres em um mundo com menor demanda por combustíveis para transporte. A Petrobras fará essa transição justamente aproveitando a excelência técnica do seu quadro de trabalhadores e a capacidade de escala e de inovação que a companhia já desenvolveu ao longo dos seus 70 anos. Por exemplo, nossa experiência em produção de petróleo em alto-mar nos habilita a desenvolver a geração eólica offshore e a captura e armazenamento geológico de carbono. Nosso parque de refino se transformará num parque industrial que concilia a produção de derivados de petróleo e a produção de combustíveis com conteúdo renovável. E vamos entrar também na produção de hidrogênio verde, que poderá usar a mesma logística do gás natural.

O investimento nas fontes de energia renovável é o que vai garantir a longevidade da companhia?

Estamos preparando a Petrobras para o futuro. Todo conhecimento acumulado em sete décadas, que nos habilitou a operar em alto-mar, nas mais extremas condições, nos credencia a romper barreiras e a desbravar o novo. Há apenas 15 anos, ninguém acreditava que seria possível produzir no pré-sal e hoje essa área já representa quase 80% da produção de petróleo brasileira. Assim vamos fazer também com novos negócios em energia renovável. Esse movimento já começou, na verdade, e podemos citar alguns exemplos das várias iniciativas que já estão em curso. A Petrobras já produz diesel com conteúdo renovável no Paraná e se tornou a empresa com o maior potencial de geração eólica do Brasil. A posição foi alcançada graças ao pedido de licenciamento ambiental, junto ao Ibama, de dez áreas marítimas com potencial de desenvolvimento de energia de até 23 GW. No âmbito da produção de petróleo descarbonizada, o trabalho pioneiro em reinjeção de CO2 permitiu que a Petrobras atingisse, por exemplo, o recorde de 10,6 milhões de toneladas de CO2 reinjetadas em 2022, equivalente a cerca de 25% do volume total de armazenamento geológico do mundo. A Petrobras é pioneira nesse tipo de operação, se formos resgatar a história de produção na Bahia, vamos ver que já na década de 90 a empresa fazia injeção de CO2 de origem industrial nos campos da Bahia.

A Petrobras terá recursos suficientes para investir em setores como o pré-sal e também para deslanchar as energias renováveis no País? Essa conta fecha?

A lógica da pergunta precisa de reparo: precisamos do pré-sal para gerar fluxo de caixa e financiar novos projetos. Sem os recursos obtidos a partir das operações de óleo e gás não conseguimos, como empresa, investir em novas áreas de negócio, algumas delas ainda em processo experimental, e que não é possível assumir a vanguarda nessas áreas sem assumir riscos de desenvolvimento. Lembrando que aguardamos também os marcos regulatórios para novos mercados, como o da eólica offshore, de hidrogênio e de captura de carbono, que contribuirão para deslanchar os projetos. Com o grande potencial que o Brasil tem para renováveis, esses avanços regulatórios e a produção científica que está em curso, estamos confiantes que os investimentos em renováveis serão cada vez mais atrativos. O Nordeste brasileiro, por exemplo, terá o ambiente mais competitivo do mundo para eólica offshore, porque tem muito menos intempéries e o vento é muito bom.

Em 2019, a Petrobras celebrou um acordo com o Cade que a obrigou a vender oito de suas refinarias. Mas, recentemente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a empresa deve readquirir as refinarias privatizadas. O que já existe de concreto neste sentido?

Não há, no momento, qualquer decisão na companhia para adquirir as refinarias que foram vendidas. Uma decisão como esta teria que passar pelas regras de governança interna da Petrobras e não poderíamos antecipar movimento de aquisição por questões estratégicas. Qualquer iniciativa que seja estudada nesse sentido teria que passar pelos processos de planejamento e aprovação previstos e ter sua viabilidade técnica e econômica demonstrada.

Na Bahia, a Acelen anunciou o aumento de 13,3% no preço da gasolina repassada para as distribuidoras, o que leva o estado a ter a gasolina mais cara do País. Para o senhor, o que acontece no nosso estado é uma mostra do equívoco das privatizações de refinarias? Já existem negociações para recompra da Landupho Alves?

Lamentamos a venda da Rlam, que se tornou um monopólio regional. Já me posicionei diversas vezes sobre o tema, explicando minhas reservas. Conseguimos reverter a decisão de vender um conjunto de campos terrestres na Bahia, mas a refinaria já tinha sido transferida. Estamos estudando parcerias com o Mubadala, mas, como disse antes, não há no momento qualquer decisão para adquirir as refinarias que foram vendidas. Isso pode ser alterado em breve, mas não posso antecipar.

Durante a apresentação da nova versão do PAC, o senhor afirmou que a Petrobras vai “lotar” novamente os estaleiros do País para construir embarcações. Aqui na Bahia temos o estaleiro de Paraguaçu. Como estão os planos para essa retomada?

Nossa ideia é aproveitar a infraestrutura instalada de estaleiros, gerando maior eficiência em nossas atividades, ao passo que se cria um ambiente competitivo no Brasil. Entendemos que uma cadeia de prestadores de serviços aptos a atender às nossas demandas e com economicidade e qualidade beneficiam nossas atividades, para além de obviamente contribuir para o crescimento do País. Estamos fazendo isso simplesmente dando visibilidade das nossas necessidades para que o mercado se prepare para as encomendas futuras. Esse ano, por exemplo, teremos 28 módulos simultâneos sendo construídos em média por mês nos estaleiros e a expectativa para 2024 é aumentar para 63 módulos em média por mês. Um exemplo de oportunidade que vem crescendo para os estaleiros nacionais é descomissionamento sustentável de plataformas. É um processo de reciclagem de equipamentos e materiais, como aço e tubulações, que são recuperados e podem ser reintroduzidos em novas cadeias produtivas. Além de estimular a economia circular, o descomissionamento verde gera oportunidades para alocação de mão de obra nos estaleiros nacionais. As perspectivas são promissoras: a Petrobras investirá US$ 9,8 bilhões no descomissionamento de 26 unidades até 2027. De 2028 a 2029, a previsão é descomissionar outros 27 sistemas. Nesse horizonte, a companhia vai destinar mais de 650 mil toneladas de aço à reciclagem. Sobre o Paraguaçu, em especial, não está em atividade no momento, mas já estamos com outros dois estaleiros cheios: em Rio Grande e Angra dos Reis. Observamos uma movimentação muito melhor do que em tempos recentes.

A negociação para a Petrobras comprar a participação da Novonor na Braskem está evoluindo? Faz parte da estratégia da companhia estar mais presente no setor petroquímico?

Dentro do contexto de transição energética, e partindo da ideia de longevidade para qualquer empresa petroleira, será muito importante estar presente no setor petroquímico. No futuro, quando a demanda de gasolina for menor, um caminho natural adiante é o de combinar petróleo com óleos vegetais no parque industrial para produzir derivados para a petroquímica. Sobre Braskem, o que podemos adiantar é que a Petrobras está realizando due diligence na empresa, para avaliar eventual exercício de tag along ou direito de preferência, na hipótese da Novonor vender suas ações na Braskem. É nosso dever como sócio relevante estudar as opções, mas não podemos adiantar qualquer decisão.

A Petrobras implementou na gestão do senhor um novo modelo de precificação do combustível. Olhando em retrospectiva, qual balanço que o senhor faz dessa política? A Petrobras seguirá com esse modelo?

Sim, a Petrobras vai seguir com esse modelo, pois está dando certo. A estratégia comercial, que substitui a política de preços anterior, confere à Petrobras maior flexibilidade para praticar preços competitivos por região, se valendo de suas melhores condições de produção e logística e disputando mercado com outras empresas que comercializam combustíveis no Brasil. Estamos competindo de forma mais eficiente e conseguindo proporcionar períodos de estabilidade de preços para os nossos clientes, evitando o repasse da volatilidade conjuntural do mercado de petróleo e derivados.

A política de dividendos da gestão anterior da Petrobras atraiu o investidor que estava em busca de ganhos altos. Haverá mudanças nessa política? Já há alguma nova fórmula?

Já mudou com a nova política de dividendos que aprovamos em julho deste ano. Reduzimos de 60% para 45% o percentual da fórmula a ser aplicada sobre o fluxo de caixa livre de cada trimestre. Com isso, recuperamos também a capacidade de investimento da Petrobras. Essa política permite a previsibilidade do fluxo de pagamentos aos acionistas, ao mesmo tempo em que garante a perenidade e a sustentabilidade financeira da Petrobras, sem comprometer sua capacidade de crescimento. Queremos atrair investidores interessados em dialogar e construir conosco uma empresa robusta, cientes da oportunidade que representa serem sócios do Brasil, e toda nossa potencialidade.

A Petrobras teve seu pedido negado pelo Ibama para prospectar petróleo perto da foz do Rio Amazonas. Ainda há alguma expectativa de conseguir mudar essa posição do órgão ambiental? O que muda no plano da companhia com esse revés?

Seguimos comprometidos com o desenvolvimento da Margem Equatorial brasileira, lembrando que essa nova fronteira abrange cinco bacias em alto-mar, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, e será fundamental para o futuro da Petrobras e do Brasil. Essa atividade pode garantir a oferta de petróleo necessária para o desenvolvimento do País e financiamento da transição energética. A Petrobras é, sem dúvida, a empresa mais preparada para desenvolver essa área com segurança e total responsabilidade social e ambiental. Tivemos uma excelente notícia esses dias com a emissão da licença ambiental do Ibama para perfuração de dois poços exploratórios em águas profundas da Bacia Potiguar, na Margem Equatorial. E a Petrobras vai aplicar na Bacia Potiguar e nas demais bacias da Margem Equatorial toda sua expertise técnica para tornar essa nova fronteira uma realidade. Em relação ao bloco nas águas profundas do Amapá, que está a 180 km da costa e a mais de 500 km da foz do rio Amazonas, o processo de licenciamento não está encerrado. O Ibama ainda está analisando nosso recurso. Atendemos todas as exigências do Ibama e aguardamos a resposta deles, confiantes de que vamos conseguir a licença. É importante lembrar que esses blocos foram licitados em um leilão federal e a ANP nos fez assinar um contrato de concessão. Nele foi estabelecido um compromisso de trabalho que envolve a perfuração nesses poços exploratórios.

Fonte: Portal A Tarde

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