Por Lucas Fagundes

Certa vez li de um autor chamado Nassin Taleb que “sistemas complexos não possuem mecanismos óbvios e unidimensionais de causa e efeito”.

No passado talvez fosse mais preciso prever o resultado de um processo eleitoral, em que as tendências e pesquisas traziam para nosso conhecimento um retrato mais confiável da preferência do eleitorado. Fazendo com que semanas antes da eleição já tivéssemos uma ideia de quem ganharia o pleito. Hoje, com a dinâmica das redes e a velocidade com que as informações circulam, as circunstâncias mudam muito rapidamente, mas não é apenas sobre velocidade da informação que tem a ver o fenômeno do Marçal em São Paulo, é sobre Tribo.

As pessoas do campo progressista ainda não se deram conta do que está acontecendo. Pablo Marçal não possui apenas seguidores, ele possui fãs. Apenas isso justifica, após medida judicial de suspensão de sua conta, seus mais de 2 milhões de seguidores em menos de 24h de perfil criado.

Ele não sabe absolutamente nada de gestão pública e é um poço de superficialidade política, mas tem uma capacidade extraordinária de criar conexão. Pablo Marçal surfa na antipolítica e mistura indignação com pitadas de teologia da prosperidade. E ele faz isso muito bem, com um henredo digno de filme. Já assistiram “Prenda-me se for capaz”? Nele Leonardo Dicaprio interpreta um charlatão habilidoso e boa pinta. É desse tipo de filme que estamos falando.

E o estrago já foi feito, não adianta mais remediar, pode parecer contraditório, mas para o bem do Brasil, é melhor que Marçal vença a eleição. Se ele for retirado do pleito por força judicial ganhará fôlego para na próxima tentar o governo de SP ou presidência do Brasil; se perder a eleição seus fãs dirão que ele foi perseguido, e novamente, se projetará para as próximas eleições; se for eleito, poderemos ter a oportunidade de mostrar para a população que existe uma enorme distância entre o que se fala na internet e o que efetivamente se pode concretizar na gestão pública.

Os discursos, por mais convincentes que possam parecer, não resistem à realidade: a fome, o desemprego, a escassez, a falta de oportunidades.

Foi essa mesma contradição que deu a vitória ao Lula, a promessa do negacionismo político é sempre fácil de assimilar e a aposta é sempre alta, mas a entrega é muito baixa. Como diria H. L. Mencken: “Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada.”

Mas, no final das contas, tirando a baixaria, a desinformação e a babaquice, o que podemos aproveitar do Marçal para a campanha de Natália?

O marketing de guerrilha!

Pelo menos uma vez na vida precisamos percorrer um caminho diferente do convencional, fazer o que outros não fizeram, ter originalidade, arriscar, falar para o povo coisas muito óbvias, mas que precisam ser ditas à exaustão: Natal piorou nas últimas décadas e tanto Paulinho Freire como Carlos Eduardo contribuíram para isso, precisamos falar sobre dor, sobre as madrugadas das donas de casa sentadas na calçada do posto de saúde pra conseguir uma ficha pra um clínico geral, sobre as linhas de ônibus que foram retiradas com aval do prefeito, sobre a falta de vagas em creches. Mas tão importante quanto dizer é como dizer. Na política a forma é igualmente e, às vezes, até mais importante que o conteúdo. Não são as melhores ideias que vencem, mas aquelas que se espalham.

Nós precisamos transformar o nosso discurso em conteúdo viral, de massa, atraente, compartilhável.

A vitória de Natália não virá dos diálogos acadêmicos sobre a exegese do voto, e muito menos das ricas discussões de construção de um plano de governo participativo.

Mas, sim, da capacidade da campanha de espalhar sua mensagem e de se conectar com o sentimento das pessoas.

Como faremos isso? Observem as trends!

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