Por Chico Alves
A declaração do comandante da Marinha, Marcos Olsen, que criticou a proposta de inclusão do nome de João Cândido no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, foi rebatida pelo filho do Almirante Negro, Adalberto Cândido, 85 anos. A alegação de Olsen é que o líder da Revolta da Chibata, de 1910, seria um “reprovável exemplo de conduta”.
“Isso é racismo, uma declaração lamentável desse almirante que não aceita que meu pai é um herói nacional”, disse Adalberto, conhecido como Candinho, ao ICL Notícias.
“Nós estamos em uma democracia e não em ditadura. A iniciativa é do Congresso, não das Forças Armadas, ele (Olsen) não tem nada com isso. Meu pai é herói do povo, não da Marinha”.
Candinho mora no município de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Há dois anos, seu pai foi homenageado com um gigantesco grafite na parede externa de casa, obra do artista Cazé e do produtor Pedro Rajão, do projeto Negro Muro.
Desde 2019, o Almirante Negro está no “Livro de Heróis e Heroínas do Estado do Rio de Janeiro” por ter se rebelado contra as chibatadas e outros castigos físicos que os oficiais naquela época impunham aos marinheiros subalternos.
“São 113 anos da Revolta da Chibata e eles agem como se continuássemos na escravidão”, avalia o filho de João Cândido. “Eles deveriam agradecer aos marinheiros de 1910 pela Marinha ser o que é atualmente. Ou queriam que a chibata continuasse até hoje?”.
João Cândido foi preso
Ele recorda que ao fim da revolta, seu pai foi preso, levado para a masmorra e ficou até em manicômio. Acabou indo morar no município pobre de São João de Meriti, onde viveu seus últimos dias e local em que reside a família.
Na nota que escreveu contra a concessão do status de herói da pátria a João Cândido, o comandante da Marinha chamou os marinheiros envolvidos na revolta de abjetos, classificando o episódio de vergonhoso e deplorável.
“Aponto, por conseguinte, que incluir, no ‘Livro de Heróis da Pátria’, João Cândido Felisberto ou qualquer outro participante daquela deplorável página da história nacional […] seria o mesmo que transmitir à sociedade, em particular, aos militares de hoje, que é lícito recorrer às armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe.”
“Se o Congresso aprovar vai para sanção do presidente Lula, esse não é um assunto da Marinha”, destaca Candinho.
Apesar das críticas do almirante Olsen, o heroísmo de João Cândido é reconhecido em livros, filmes, peças teatrais e músicas, como a genial “Mestre Sala dos Mares”, de autoria de João Bosco e Aldir Blanc.