Antes e após assumir a Presidência, Bolsonaro vem tentando instrumentalizar a fé cristã em prol do seu projeto de poder (sem nunca falar que, para a fé cristã, vive em adultério publicamente).
A última foi trazida pela sua esposa, ao afirmar que “o Planalto já foi consagrado aos demônios”, insinuando que a solução seria Bolsonaro, que o teria consagrado a Cristo.
Não se sabe ao certo onde termina a ignorância e onde começa a má-fé, mas o fato é que a fala constitui-se tanto num absurdo político, quanto teológico (para os que, como eu, creem).
A fala é um absurdo político e fere o estado laico, pois há uma nítida tentativa de instrumentalizar os diversos mecanismos de poder do governo a partir de interesses religiosos específicos, beneficiando-se disso eleitoralmente.
Teologicamente, é tão absurdo quanto.
O discurso da primeira-dama vai de encontro ao discurso do Cristo, quando disse: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21).
Cristo queria mostrar que Seu Reino não é deste mundo (João 18,36). Michele quer um reino do seu esposo utilizando Cristo como pretexto, sem se dar ao trabalho nem de explicar quais os sinais da “consagração aos demônios”, quais as “provas”, quem “consagrou”.
São todas alegações instrumentais, vagas, beneficiando-se da situação ideológica, por meio da qual até grandes estudiosos da Escrituras não conseguem ver as nítidas contradições, preferindo pensar, acriticamente, que estão cumprindo o a vontade de Deus ao ajudar no projeto Político de César, digo, Bolsonaro.
Mas o povo e Deus julgarão.