DCM – Lula é, pela capacidade de construir e gerir sua imagem pública, o mais intuitivo dos grandes políticos brasileiros, e talvez só perca ou empate nesse quesito com Getúlio. Porque essa é sempre a comparação inevitável.
Lula é o que é pelo que agregou à sua figura por conta própria, pelo instinto que o mobiliza para dizer e fazer o que pensa. Não há coisas inventadas em Lula. O povo sabe, até Barack Obama já sabia.
Na maior parte da vida como figura pública, e principalmente no início, na fase decisiva para a construção do que é, Lula não deve ter contado com ninguém que orientasse condutas e muito menos a configuração da sua imagem.
Nem a sempre citada Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, quando se apresenta como moderado, altera sua essência. Nem quando apareceu, naquela campanha vitoriosa, de camisa branca e gravata.
Lula continuava funcionando na intuição, mesmo que tenha contado com o suporte de orientadores pontuais de falas e ações de fora das estruturas de partido e governo.
E assim foram seus dois mandatos, já num tempo em que os marqueteiros e as suas pesquisas qualitativas ajudavam a calibrar o comportamento de políticos, não só em campanhas eleitorais.
É como a roda gira hoje. Governos e governantes passaram a se orientar pelo que o marketing político considera adequado para as circunstâncias e para os futuros mais próximos. O marketing ouve as pessoas, mais do que a ciência política, para saber o que elas querem ouvir.
Mas a pergunta incômoda do terceiro mandato de Lula é essa: o que os brasileiros querem mesmo ouvir? Que proveito Lula pode tirar das orientações de quem tenta entender a percepção de mundo dos brasileiros pós-Bolsonaro?
[Continua no site]