Eu tenho uma raiva particular dos neofariseus, conjunto de cristãos católicos e evangélicos que possuem as características expressamente elencadas por Jesus no sermão de Mt 23.
É uma raiva que provém da alma, não de uma análise consciente da realidade.
Mesmo não sendo exemplo de cristão, as críticas raivosas feitas por mim aos neofariseus não encontram seu fundamento na política, como muitos devem pensar, mas na fé que com sinceridade professo, ainda que de modo indiscutivelmente imperfeito.
Talvez, penso, essa raiva seja apenas mais um dos muitos pecados meus, mas talvez seja um lampejo do Espírito Santo que, pela graça, insiste em manter seus resquícios num homem extremamente pecador.
Mesmo vítima do pecado primordial da vaidade, quanto à fé, reconheço publicamente minha miséria.
Sou um miserável, um publicano, um atormentado que não se acha sequer no direito de ser chamado de filho de Deus.
Compreendo que minha pena há de ser inclusive maior, porque eu li e entendi o que “está escrito”.
Porém, a despeito da minha miserabilidade consciente, não posso jamais deixar de combater os neofariseus, justamente porque sei que muitas ovelhas poderiam caminhar rumo à santidade, mas são por eles desviadas dos passos do Cristo.
Muitas dessas ovelhas são levadas, por exemplo, a declarar um apoio irrestrito a Israel, mesmo que continue matando dezenas de milhares de mulheres e crianças.
Mesmo que Israel continue mantando centenas de bebês de fome, como fez com o pequeno Yahya da imagem acima.
Com base em que cristãos conservadores como a vereadora natalense Camila Araújo e a deputada federal potiguar Carla Dickson (imagem) conseguem continuar dizendo que Israel defende a paz? Não há medo da ira divina?
Como não associam Netanyahu ao rei Herodes, que praticou um genocídio de bebês apenas pelo seu apego egoísta ao poder (Mt 2,16)?
Enquanto escrevo este artigo, não consigo ter sequer raiva, apenas tristeza, lembrando do que escreveu o evangelista em Mt 2,18, citando o Profeta Jeremias:
“Uma voz em Ramá foi ouvida,
um choro e grande lamento;
era Raquel chorando os seus filhos
e não queria ser consolada,
porque já não existiam”.