Brasil 247 – O cientista Miguel Nicolelis, conhecido mundialmente por suas pesquisas em neurociência e interfaces cérebro-máquina, fez duras críticas ao atual cenário político dos Estados Unidos e comparou o presidente Donald Trump ao imperador romano Nero. Em entrevista concedida ao jornalista Gustavo Conde, na TV 247, o professor apresentou reflexões sobre a instabilidade global, o avanço do negacionismo e a falta de empatia que atinge grande parte das lideranças contemporâneas.
Segundo Nicolelis, que viveu mais de três décadas nos Estados Unidos, o país está mergulhado em um processo de “autodestruição”. Ele afirma que o fenômeno do negacionismo científico e o domínio do poder econômico sobre as instituições se agravaram, especialmente nos últimos anos. Em tom de alerta, o pesquisador não poupou palavras ao destacar a ascensão de políticas autoritárias e episódios de violência que, de acordo com ele, remetem a contextos históricos sombrios. “A polícia americana está sequestrando estudantes sem identificação, no meio da rua, exatamente como se via em regimes autoritários”, declarou.
Na conversa, o neurocientista apontou que o “desmantelamento da credibilidade” das instituições norte-americanas já produziu consequências econômicas perceptíveis. Ele citou a volatilidade do dólar e a queda de confiança no mercado financeiro, associando tais fatores aos choques na política comercial implementada no governo Trump. Como consequência, alguns centros de pesquisa e universidades no país perderam grande parte de seus recursos e a própria liberdade acadêmica vem sofrendo restrições, o que preocupa Nicolelis: “A combinação de um processo de total corrupção do sistema eleitoral e da hegemonia do poder econômico sobre o processo político não deixa espaço para inovação e pensamento crítico.”
Imbecilização em massa
Outro ponto ressaltado por Miguel Nicolelis foi a “imbecilização em massa” promovida pela difusão de conteúdos superficiais em redes sociais e a manipulação de informações que acabam fomentando a ignorância coletiva. Para o cientista, “vivemos cada vez mais em uma sociedade dominada pela ciência e tecnologia, onde ninguém entende absolutamente nada de ciência e tecnologia”, uma frase que ele recorda ter ouvido anos atrás de um pensador americano. Hoje, essa realidade seria ainda mais grave, já que a cultura de pós-verdade e a disseminação de notícias falsas se intensificaram.
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