ICL – Durante as investigações sobre um esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Polícia Federal (PF) identificou, em janeiro passado, um áudio clandestino de uma reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin.
Na conversa, os dois discutem possíveis irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência que tinha como alvo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. As informações são do jornalista Eduardo Gonçalves, do jornal O Globo.
O arquivo estava armazenado em um computador do deputado Alexandre Ramagem. O áudio integra o inquérito que apura o uso da agência para espionagem ilegal de adversários políticos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
A PF indiciou Bolsonaro e Ramagem nesta terça-feira (17) por suspeita de articularem um esquema paralelo de monitoramento dentro da agência. O senador Flávio Bolsonaro não foi indiciado.
PF e Ramagem
Segundo a PF, a reunião foi realizada em 25 de agosto de 2020, no Palácio do Planalto, e contou com a presença de Ramagem e do então presidente Jair Bolsonaro. Na conversa, os dois discutem supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal.
O documento serviu de base para a investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no caso das “rachadinhas” — procedimento anulado em 2021 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), por falhas processuais.
Procurados, Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem não comentaram o indiciamento feito pela PF. Em declarações anteriores, ambos negaram a existência de uma estrutura paralela dentro da Abin e rejeitaram qualquer envolvimento com ações de espionagem ilegal.
A Abin afirmou que colabora com as autoridades e destacou que os fatos investigados ocorreram em gestões anteriores. Em uma postagem nas redes sociais, feita após a revelação do áudio em 2024, o senador Flávio Bolsonaro negou qualquer ligação com uma “Abin paralela” e afirmou ser vítima de “criminosos que acessaram ilegalmente” seus dados sigilosos na Receita Federal.
PF identificou que advogadas de Flávio participaram de reunião
A PF identificou que, além do então presidente Jair Bolsonaro e do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também participaram da reunião realizada em 2020 no Palácio do Planalto. Durante o encontro, segundo a PF, as defensoras detalharam estratégias jurídicas que pretendiam adotar para tentar barrar a investigação sobre o caso das “rachadinhas”.
Em trecho da gravação obtida pela PF, Ramagem afirma que “seria necessário instaurar um procedimento administrativo” contra os auditores da Receita Federal, com o objetivo de “anular a investigação” e “afastar alguns servidores de seus cargos”.
O conteúdo do áudio foi incluído em um relatório da Polícia Federal enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O documento também revela que integrantes da chamada “Abin paralela” teriam atuado para levantar “informações comprometedoras e vínculos políticos” dos auditores responsáveis pelo relatório fiscal que embasou a investigação contra Flávio.