A Polícia Federal (PF) começou a receber os documentos enviados pelas autoridades americanas para ajudar a elucidar o caso da venda ilegal das joias do acervo presidencial recebidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que foram vendidas. Em outubro, o Departamento de Justiça americano autorizou o pedido de colaboração policial internacional para investigar o esquema ilegal envolvendo itens do acervo presidencial.
As autoridades americanas enviaram documentos que comprovam que o advogado Frederick Wassef recomprou um relógio do acervo presidencial em dinheiro vivo a mando do General Lourena Cid, pai de Mauro Cid. Em agosto, o advogado da família Bolsonaro admitiu ter ido aos Estados Unidos reaver o item do acervo presidencial, mas negou que tenha sido a mando do ex-assessor de Bolsonaro. Após a confissão, Frederick Wassef foi alvo de mandados de busca e teve dois celulares apreendidos. Mauro Cid fechou um acordo de colaboração com a PF, mas os termos são mantidos sob sigilo.
Neste momento, os investigadores analisam a primeira remessa de documentos enviados pelo FBI. Nos próximos dias, uma equipe da PF deve ir aos Estados Unidos fazer diligências em campo.
A colaboração internacional foi intermediada pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI). A PF apura crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de valores, apropriação indevida, falso testemunho.
Delação de Cid
O tenente-coronel Mauro Cid, principal ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na Presidência, afirmou à Polícia Federal no seu acordo de delação premiada que recebeu “determinação” do então presidente para avaliar o valor de um relógio Rolex e autorização para vendê-lo junto com outros itens que compunham um kit de joias valiosas dado pela Arábia Saudita como presente oficial.
O acordo de delação foi firmado pela PF e homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 9 de setembro. Cid aponta Bolsonaro como mandante dos supostos crimes investigados nessa frente de apuração — peculato (desvio de bens públicos) e lavagem de dinheiro.
As declarações do militar confirmam as suspeitas anteriores da PF de que as joias foram vendidas a mando do ex-presidente, que teria recebido os valores em dinheiro vivo para não deixar rastros.
Segundo o depoimento de Cid, obtido pelo blog com pessoas que acompanham as investigações, Bolsonaro estava reclamando, no começo de 2022, dos pagamentos de uma condenação judicial em um processo movido pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), dos gastos com a mudança e o transporte do acervo de presentes recebidos e das multas de trânsito por não usar capacete nas motociatas.
Bolsonaro, então, perguntou a Cid quais presentes de alto valor havia recebido em razão do cargo, segundo o relato do ex-ajudante de ordens.
Cid disse que verificou que as peças mais fáceis de mensurar o valor seriam os relógios, e solicitou ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), órgão que organizava o acervo presidencial, uma lista dos relógios que o presidente ganhou.
O tenente-coronel contou à PF que avisou Bolsonaro que o relógio que poderia ser vendido de forma mais rápida era um Rolex de ouro branco dado pela Arábia Saudita em 2019, durante uma viagem oficial.
Ainda segundo Cid, o presidente perguntou se esse relógio poderia ser vendido. O ex-ajudante de ordens afirmou que “recebeu determinação do presidente” para levantar o valor do Rolex e que o ex-presidente o autorizou a vender o relógio e os demais itens do kit ouro branco.
Fonte: G1