Mirella Lopes/Saiba Mais – A Praia de Ponta Negra, cartão postal de Natal, não será mais a mesma após a engorda, que é o processo de alargamento da faixa de areia. Isso é o que afirmam os estudos que são realizados há anos dentro da temática. A mudança não é exclusividade de Ponta Negra e costuma ocorrer com toda praia que passa por esse processo. A formação das ondas, o movimento dos oceanos, do vento, do fundo do mar, tudo isso influência na formação de correntezas mais fortes.

“As praias vão mudar completamente sua morfologia. A formação de ondas depende não só do movimento do que vem do oceano, juntamente com as forças dos ventos, mas da profundidade também. O que vemos como onda, que é a crista se formando e começando a arrebentar, é quando essa dinâmica oceânica, formada por esse movimento de transferência dos ventos e a própria evolução das massas oceânicas em direção ao continente, encostam no fundo, há o encrespamento, a onda que é uma movimentação circular passa a ter uma inclinação e vem em direção ao continente que à medida que ela se aproxima da linha de costa, vai formando aquilo que a gente percebe, que é a crista da onda que arrebenta na praia. O que acontece com o novo aterro é que essa morfologia do fundo mudou. A forma como essa energia está encontrando o fundo vai ser alterada porque temos uma profundidade diferente, mais intensa, às vezes muda a direção… agora, com uma nova profundidade e um novo substrato, isso realmente vai acontecer”, explica Venerando Eustáquio, professor de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e coordenador do Laboratório de Geotecnologias Aplicadas Modelagem Costeira e Oceânica (GNOMO).

Por causa da mudança e instabilidade do mar em locais que passaram por engorda, a recomendação é que as pessoas fiquem mais atentas durante o banho de mar.

“Aquilo que habitualmente percebíamos vai mudar. Não só a forma de percepção da onda, o ponto onde ela vai quebrar, a direção das correntes que vão sofrer algum tipo de alteração, vão ficar mais evidentes e fortes em determinados momentos… isso tudo vai depender da maneira como o aterro foi construído, no caso de Natal temos uma obra que ainda está em execução”, destaca Venerando Eustáquio.

O pesquisador explica, ainda, que para fazer uma avaliação mais precisa e encontrar a praia em um estado mais natural, seria preciso esperar um ciclo, o período de um ano, passando por todas as estações.

“Deveríamos ter muito cuidado, acho que as pessoas agora deveriam evitar frequentar até compreender melhor e ter a percepção de como essa praia está reagindo a toda essa energia oceânica e não pensar que ficou igual, o que causa muito risco de acidentes sérios. As pessoas já reclamaram para mim também que quando elas vão entrando dentro do mar vai chegar um momento que você tem essa quebra e a profundidade aumenta muito rapidamente. O talude do aterro dentro da água certamente está mais íngreme e é a hora que as pessoas podem se desesperar porque ‘perdem pé’ [não alcança mais o chão, o fundo do mar], se assustam, vem uma corrente diferente e elas ficam desesperadas…”, adverte o pesquisador da UFRN.

[Continua no site]

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