A direita avança. Não tenho mais tempo para ser polido. Vou direto ao ponto.
Há 20 anos, se perguntássemos como as pessoas encaravam a esquerda, a maioria, movida pelo senso comum, diria que a esquerda é a ala da política que defendia os pobres e os trabalhadores.
Hoje, se perguntarmos ao povão como ele encara a esquerda (com exceção de Lula), a maioria dirá que somos mimizentos, defensores das drogas e de bandidos.
Somos isso? Evidente que não. Mas nossas estratégias de atuação e comunicação políticas contribuíram, ainda que indiretamente, para a criação de um terreno fértil à cristalização das narrativas da direita sobre nós.
Ater-me-ei ao adjetivo de “mimizento”.
De uns tempos para cá, a impressão que o povão tem é a de que a esquerda só reclama, nunca se defende, apenas pede para que outros, geralmente o Estado, a defenda.
Sim, temos de cobrar ação do Estado contra as injustiças, mas não só: devemos também nos autodefender.
Hoje, o máximo que a maioria da esquerda faz como autodefesa é gritar “fascistas não passarão”.
Eu imagino a cena, quando os fascistas tentaram marchar sobre Londres em 4 de outubro de 1936: os trabalhadores, no canto da rua, gritando “os fascistas não passarão”, enquanto os fascistas passavam.
Para quem não se lembra, naquele dia os fascistas não passaram, não porque houve protesto no sinal de trânsito, mas porque foram quebrados no pau pela classe trabalhadora, no que ficou conhecido como “Batalha de Cable Street”.
“Raposinha, tá mandando quebrar a galera no pau?”.
Não, estou dizendo apenas que devemos estar taticamente prontos para o exercício da autodefesa mediante o uso proporcional da força, caso necessário.
Um dos caminhos é a retomada da tradição marcial (1).
A marcialização da esquerda traria pelo menos dois benefícios:
1) a facilitação do exercício da autodefesa por parte dos militantes;
2) mostraria para a direita que mimizento é o caralho.
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Conferir o artigo “Por que a esquerda precisa retomar a tradição marcial”, publicado por @gustavofreirebarbosa no “Jacobin Brasil”, onde é feita uma abordagem esmiuçada sobre a importância da tradição marcial nos movimentos revolucionários do século XX.