Saiba Mais/Mirella Lopes – Enquanto movimentos sociais em Natal e em todo o país falavam em fim da escala 6×1, contra anistia aos golpistas e na luta por melhorias nas condições de vida nesse 1º de Maio, Dia do Trabalhador, o senador potiguar Rogério Marinho publicou em suas redes sociais uma mensagem cheia de significados que remetem à servidão e pobreza.
Usando as tradicionais cores do verde e amarelo, Marinho colocou no post a mensagem bíblica que diz “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor”, ao lado da foto de uma mulher negra, sem dentes, com um pano na cabeça e uma vasilha de barro nas mãos.
“Veja, a imagem tem uma mulher em estado de privação. A falta de acesso aos serviços odontológicos está explícita. Ela encontra-se pedindo ajuda, de mão estendida, e com uma vasilha. Não se enquadra no estereótipo do trabalhador com ganho suficiente para não estar nesta condição”, interpreta Lilian Muneiro, professora do departamento de Comunicação Social com doutorado pela PUC-SP e pós doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Imagem: reprodução redes sociais Rogério Marinho
Numa fase de capitalismo voltado para o desenvolvimento de tecnologias e de alta competitividade num mercado globalizado, Marinho prefere apelar ao uso da religião e à estética da pobreza para demonstrar simpatia com os mais humildes sem, necessariamente, representar seus interesses.
“Esta personagem é usada como condição precária do trabalhador, que não tem uma condição melhor para realizar trabalho. Há emprego da religião e a tentativa de evocar o imaginário do leitor de vários modos: como nossa condição falida e também como falta de atitude individual em alterar isso. Como quem propõe é um partido político fica também posto que poderia dar outro rumo, a figuratividade do verde e amarelo demarcam cores reconhecidas e de apelo ao nacional”, analisa a pesquisadora.
Ironicamente, Marinho foi um dos principais nomes por trás da Reforma Trabalhista — aprovada em 2017 no governo Temer. Ele também foi secretário especial da Previdência Social e Trabalho em 2019 e em 2020 assumiu o Ministério do Desenvolvimento Regional do governo Bolsonaro, tendo sido eleito e assumindo o cargo de senador pelo Rio Grande do Norte em 2023. Mais recentemente, Marinho também adicionou ao currículo a defesa da anistia aos golpistas do 8 de janeiro e 2023.