Cada vez é mais comum que líderes religiosos cristãos optem por falar mais sobre política do que sobre Jesus, tanto os católicos, como os evangélicos.
Um dos mais influentes é Silas Malafaia, principal nome do “cristianismo político de direita”.
Silas costuma fazer discursos acalorados sobre como o Estado (laico) brasileiro deve se conformar a preceitos que, segundo ele, são bíblicos.
Ocorre que a relação que Silas defende entre fé e política não é “bíblica”.
Algo só é “bíblico” quando está adequado aos ensinamentos de Cristo, Plenitude da Palavra de Deus (Jo 1), porque é de Cristo que as Escrituras tiram seu fundamento, não o contrário (Jo 5, 36-40).
Se fosse necessário apenas “estar na bíblia”, as tentações praticadas pelo diabo no deserto seriam “ensinamentos bíblicos” (Mt 4,1-11).
A associação entre fé e política feita por Silas está fundamentada, majoritariamente, em interpretações descontextualizadas do antigo testamento (AT).
O AT deve ser lido com os “olhos do Novo Testamento” (NT), pois embora “a Lei tenha sido dada por Moisés, a graça e a verdade só vieram por Cristo” (Jo 1,17), luz que concede a correta interpretação para as sombras da antiga aliança (Hb 10).
Aqueles por cuja destruição clama o salmista já não são mais inimigos políticos ou nações pagãs, mas o pecado e a falta de amor, pois quem vive pela espada morrerá pela espada (Mt 26,52), e os que promovem a paz serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9).
É por isso que Jesus disse “dai a César o que é de César, e dai a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21), e respondeu a Pilatos, afirmando: “meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36).
É por isso que a Bíblia faz a oposição entre Jesus e Barrabás, um judeu que estava preso porque tinha participado de uma rebelião contra Roma (Mc 15).
De um lado Barrabás, que defendia a libertação do povo “pela espada” e esperava pelo Messias que o guiaria na guerra santa; do outro, o Príncipe da Paz (Is 9,6), o servo desfigurado (Is 52.13-53.12), manso e humilde de coração (Mt 11,29), Messias que veio libertar seu povo não pela vitória de um projeto de poder político, mas pela entrega total de si mesmo, por amor, sem exigir nada em troca.
Quando Pilatos perguntou quem deveria soltar, os judeus escolheram Barrabás.
Se Silas estivesse lá naquele dia, quem ele teria escolhido?