ICL – O presidente Lula (PT) reforçou, em entrevista publicada nesta quarta-feira (30) ao The New York Times, críticas à tarifa de 50% a produtos importados do Brasil pelos Estados Unidos a partir de sexta-feira (1º). O petista acusou o governo norte-americano de ignorar ofertas de diálogo e afirmou que o Brasil não aceitará ser tratado com subserviência.
“Estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, disse Lula. “Trato todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”
A tarifa de 50% é a mais alta entre as aplicadas pelos EUA a seus parceiros comerciais e, segundo justificativas da Casa Branca, se relaciona com o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF (Supremo Tribunal Federal), atualmente réu por tentativa de golpe de Estado. Lula rebateu a alegação: “Talvez Trump não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente”.
O presidente ainda alertou que os consumidores americanos sentirão os efeitos da medida no bolso. Produtos como café, carne e suco de laranja ficarão mais caros. “Reconhecemos o poder econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos dá medo, isso nos causa preocupação”, afirmou, acrescentando que o Brasil não negociará “como um país pequeno diante de um país grande”.
Governo Lula vê Jamieson Greer como peça-chave em reaproximação
O governo do presidente Lula ainda aguarda um sinal claro de Washington para iniciar uma negociação formal. Segundo interlocutores, a expectativa recai sobre Jamieson Greer, representante comercial da Casa Branca, considerado o principal articulador de acordos internacionais no governo Trump.
Embora o vice-presidente Geraldo Alckmin tenha se reunido recentemente com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, é Greer quem tem maior autonomia nas tratativas comerciais. Ele participou, por exemplo, das recentes negociações com a China em Estocolmo ao lado do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.
Fontes diplomáticas acreditam que o retorno de Trump e de sua equipe de uma visita à Escócia possa abrir espaço para um gesto político, permitindo que o Brasil entre na fila de acordos que já envolvem países como Indonésia, Reino Unido, Japão e União Europeia.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sinalizou estar disposto a viajar a Washington para conversas de alto nível, caso receba um convite formal. As negociações podem incluir temas estratégicos como regulação de big techs, interesse dos EUA em minerais críticos (como nióbio e lítio) e a definição de produtos que poderiam circular com menos barreiras entre os dois mercados.
Ponto sensível: Bolsonaro fora da pauta
Um dos entraves para o avanço das conversas é a insistência da Casa Branca em vincular o acordo comercial ao julgamento de Jair Bolsonaro no Brasil. Trump tem pressionado o governo Lula para que o tema seja abordado em uma eventual negociação bilateral. Assessores do Planalto, porém, alertam que esse tipo de exigência é inaceitável e que uma ligação entre os dois presidentes precisaria ser cuidadosamente preparada para evitar incidentes diplomáticos.
Desde março, Brasil e EUA vinham negociando questões tarifárias envolvendo aço, alumínio e produtos industrializados. Contudo, em julho, Trump anunciou de forma unilateral a imposição de uma nova tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros — acirrando tensões diplomáticas e misturando política externa com interesses eleitorais.