Por Carlinhos Penas
Natal é uma das poucas capitais brasileiras onde o transporte coletivo ainda gira quase exclusivamente em torno dos ônibus e do trem urbano operado pela CBTU. Enquanto cidades como Fortaleza e Recife avançaram em sistemas sobre trilhos mais robustos, a capital potiguar segue limitada a soluções que parecem provisórias. Mas por quê?
Especialistas em mobilidade urbana apontam que a resposta está em uma combinação de fatores econômicos, institucionais e políticos.
De início, está o custo de implantação. Projetos de metrô exigem investimentos bilionários, viáveis apenas com forte apoio da União ou de parcerias público-privadas. Estudos acadêmicos da UFRN já mostraram que a cidade não conseguiu reunir viabilidade financeira nem atrair linhas de crédito que viabilizassem o salto para um sistema pesado.
Outro entrave é a configuração urbana de Natal. Pesquisas na área de planejamento revelam que a capital tem corredores de demanda fragmentados e densidade relativamente baixa em comparação a outras cidades que implantaram metrôs. Nessa lógica, os técnicos afirmam que seria mais racional ampliar e integrar melhor os ônibus e o VLT do que investir em linhas subterrâneas de alto custo.
Mas o debate não para na engenharia. Existe também um fator de poder econômico. O transporte por ônibus em Natal é controlado há décadas por um pequeno grupo de empresas, tradicionalmente as mesmas famílias. Juristas e urbanistas lembram que o serviço operou por muito tempo sem licitação, o que concentra poder e torna o setor resistente a mudanças estruturais. Procuradores do Ministério Público já alertaram em documentos oficiais para a necessidade de abrir o mercado, justamente para evitar que o monopólio dificulte inovações.
Na prática, isso significa que a pressão política dos operadores de ônibus influencia a agenda do transporte. Pesquisadores descrevem esse fenômeno como uma barreira velada: qualquer projeto que ameace reduzir a centralidade do ônibus enfrenta resistência nos bastidores. Não à toa, propostas de BRTs e a expansão do VLT já esbarraram em dificuldades institucionais e em disputas por espaço no orçamento.
Por fim, há ainda a questão do planejamento urbano. Trabalhos acadêmicos observam que os planos diretores de Natal historicamente pouco dialogaram com a mobilidade. Sem diretrizes que articulem transporte de massa e adensamento habitacional, a cidade não cria corredores de alta demanda que justifiquem investimentos de grande porte como o metrô.
Assim, quando se pergunta por que Natal ainda não tem um metrô, a resposta é multifacetada. O peso do investimento, a baixa densidade, a falta de integração entre modais, a ausência de licitação no transporte e a força política dos empresários de ônibus se combinam num quadro de inércia. O resultado é que, em vez de trilhos subterrâneos, Natal continua debatendo alternativas mais baratas — como reforço no VLT e ajustes no sistema de ônibus — enquanto a modernização definitiva do transporte coletivo permanece no campo dos estudos e das promessas.
Ao povão, que é quem mais sofre em meio a isso tudo, “só lembranças” de Bartô.