Por @silverioalvesfilho
Editor do Debate Potiguar
À época da faculdade de Direito, por indicação de um professor da área criminal, assisti ao filme dinamarquês “A Caça”, que tem no papel de protagonista o grande ator Mads Mikkelsen.
Em linhas gerais, o filme conta a história de um professor acusado de abuso por uma criança. Ninguém na pequena cidade desconfia da veracidade da acusação, afinal era muito séria e feita por uma criança. Começa-se uma “caça” ao professor, levando à sua ruína. Ocorre que a acusação era falsa, motivada pelo ressentimento que a criança tinha em face do professor.
Em relação a acusações como esta, todos tendem a pensar que são, necessariamente, verdadeiras, dada a sua gravidade. E, de fato, na maioria das vezes são, por isso, dentre outros motivos, que nos crimes sexuais a palavra da vítima tem, como deve ter, um peso probatório diferenciado.
Não obstante, sempre há a possibilidade de que seja uma acusação falsa, e isso não pode ser desconsiderado, sob pena de possíveis ocorrências irreversíveis, inclusive. Basta lembrar do Reitor da UFSC, que, embora não fosse o caso de acusação de crime sexual, suicidou-se ao ter sua biografia devastada por uma ação irresponsável de um Delegado da Polícia Federal em busca de “publicidade”.
No caso do jornalismo, não há norma constitucional que preveja a presunção de inocência, vigorando como regra a liberdade de expressão (ou acusação). Apesar disso, a melhor compreensão ética, a meu ver, é a de que denúncias sérias como a trazida pelo jornalista Gustavo Negreiros em face do Arcebispo Dom Jaime deveriam ser publicadas, necessariamente, acompanhadas de provas robustas.
Gustavo disse que tinha as provas, mas não esclareceu ao certo se tinha as provas primárias em mãos ou apenas a declaração do ex-seminarista sobre as eventuais provas primárias o que, na prática, não seria prova nenhuma, mas declaração unilateral.
É possível, ainda, que Gustavo tenha as provas, mas queira divulgá-las aos poucos, para ver o Bispo “sangrar” e com isso ganhar engajamento e publicidade, no melhor estilo “lavajatista”, o que, a meu ver, deixaria sua atuação mais para Sikera Júnior, do que para Spotlight.
As denúncias são sérias e devem ser apuradas, mas penso que, quando vidas e biografias estão em jogo, o jornalismo deve considerar a presunção de inocência, denunciando apenas mediante a publicização das eventuais provas. É isso, dentre outras coisas, que separa o jornalismo sério de um tabloide sensacionalista.