Um dos títulos raros da literatura potiguar do início do Século XX, a obra “Bahú de Turco”, de Sá-Poty, pseudônimo do jornalista e escritor Pedro Lopes Cardoso Jr (Natal/RN, 1897 – Recife/PE, 1934), será relançado pelo Sebo Vermelho neste sábado (14), a partir das 9h até 12h. A obra chega ao leitor 90 anos depois de sua edição e ilumina um dos mais ativos jornalistas da primeira imprensa potiguar. A edição fac-similar vem acrescida de textos do jornalista Vicente Serejo e das jornalistas Cinthia Lopes e Rejane Cardoso Serejo, respectivamente neta e sobrinha do autor.
Publicado pela primeira vez no Recife-PE, onde o jornalista viveu seus últimos anos de vida, “Bahú de Turco” é o único livro impresso deixado pelo escritor-jornalista natalense considerado um dos pioneiros da imprensa potiguar com intensa atuação nas primeiras décadas do século passado. Pedro Lopes Jr fundou e editou diversos jornais em Natal e Recife. Sua contribuição como jornalista, literato e, sobretudo, humorista estão descritos em textos, artigos, reportagens, crônicas em jornais e revistas de Natal e Recife, a maioria sob o manto dos pseudônimos, como era comum nos primeiros anos da imprensa no Brasil. Entre os mais conhecidos estão Pierre, Jean D’Alsace, João da Alsácia e Polyantok e Sá-Poty.
Sua trajetória foi relatada por autores como Luís da Câmara Cascudo (Acta Diurna), em cartas de Oswaldo Lamartine, na antologia ‘Poetas do Rio Grande do Norte’, de Ezequiel Wanderley, lançado em 1922, no livro de Manoel Rodrigues de Melo, “Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte 1909-1987” e na coleção “Natal 400 Nomes” (1999, Prefeitura de Natal), editado por Rejane Cardoso. Mais recentemente pela escritora-pesquisadora Cellina Muniz, em seu livro “Notícias da Jerimunlândia” (Sebo Vermelho).
O único exemplar existente de “Bahú de Turco” até então pertencia ao jornalista Vicente Serejo, herdado de seu sogro Omar Lopes Cardoso. “Fiquei herdeiro legítimo daquele livro guardado a sete chaves e que antes tive nas mãos uma única vez, sob o olhar vigilante de doutor Omar. O livro raro seguiu comigo, mas ninguém nunca demonstrou interesse. A não ser Otacílio Lopes Cardoso, encantado pela inteligência daquele irmão, o jornalista que brilhou em Recife, e aqui desapareceu, anônimo e esquecido. Seus filhos – Pedro Lopes Neto, um professor-doutor que chegou a diretor da Faculdade de Odontologia da UFRN; e Everaldo Lopes Cardoso – herdeiro do humor de Pierre, criador do ‘Cartão Amarelo’ e pai da jornalista Cinthia Lopes Cardoso – ficaram órfãos do pai ainda muito meninos, e pouco sabiam de sua vida jornalística”, escreveu Serejo no prefácio da nova edição.
Das publicações que Pedro Lopes Cardoso Júnior contribuiu, a revista “Atualidade”, publicação “independente, literária e noticiosa, moderna e bem escrita” como descreve Manoel Rodrigues de Melo no Dicionário da Imprensa Norte-Rio-Grandense. Lançada em 1920, tinha sede própria à rua 21 de Março, Centro, e contava na redação titular, além de Pedro Júnior, João Café Filho, e colaboradores ilustres como Othoniel Menezes, o irmão Otacílio Lopes Cardoso, Carolina Wanderley, Sebastião Fernandes, Oscar Homem de Siqueira e participação de Jaime Adour da Câmara.
A escritora Cellina Muniz lembrou que na transição entre os séculos XIX e XX, período em que a imprensa no Brasil ainda engatinhava na profissionalização, “os sujeitos das letras se equilibravam em autorias diversas e, assim, uma mesma mão que escrevia podia assinar ora como jornalista, ora como literato, ora como humorista”. “No Rio Grande do Norte, um desses nomes que poucos conhecem é o de Pedro Lopes Junior, que também se dividiu na autoria entre jornais e colunas de humor como “O Automóvel” e “A Plateia” em Natal e “Salpicos” e “Pinguinhos” no Jornal de Recife, assinando como Pierre, Poliantok, João d´Alzácia e Sá-Poty. É com este pseudônimo, aliás, que toda a sua potência plural de jornalista, poeta e humorista vem à tona por meio do livro Bahú de Turco””.
Para Câmara Cascudo, Pedro “foi um humorista vitorioso, mantendo seu lugar diário, pela anedota, pelo verso, pela sátira, envolvendo-se num resplendor de graça inesperada e de finura improvisada”. Cascudo também fez uma revelação: “Na Imprensa escrevemos juntos um romance dominical em roda-pé, sob o título ‘O Homem da Capa Cinzenta’. Os folhetins misteriosos e adoráveis de imprevisível desfecho pertencem a Pierre”.
E fecha a Acta Diurna com seus versos autobiográficos e irônicos:
“Depois, quando eu morrer, minha caveira naquela doce paz do cemitério a demonstrar que em vida não fui sério, inda rirá da humanidade inteira… “
SERVIÇO:
BAHÚ DE TURCO, DE SÁ-POTY (Editora Sebo Vermelho)
Lançamento: sábado, 14, das 9h às 12h, no Sebo Vermelho,
Av. Rio Branco, 705, Cidade Alta
Preço: R$ 60