As eleições no Brasil não são polarizadas de hoje. Desde 1994, apenas dois partidos disputam a preferência do grande eleitorado. Até 2014, era PT e PSDB. Com a debacle dos tucanos (será definitiva?), o bolsonarismo assumiu seu lugar.
Não à toa, foi em 2014 que mais se aproximou o momento de uma terceira. A morte trágica de Eduardo Campos interrompeu uma carreira que prometia “furar a bolha”. Sua sucessora na campanha, Marina Silva, quase emplacou, mas sucumbiu diante da força do bipartidarismo informal brasileiro.
Em 2018, Ciro Gomes tentou apresentar um projeto alternativo para o enfrentamento de Bolsonaro. Mas não chegou ao segundo turno, que talvez tivesse ganho, esbarrando também na força do lulismo que conseguiu reerguer Fernando Haddad.
Em 2022, a estratégia de lulista e bolsonaristas é apostar novamente numa eleição polarizada. Estratégia que em 2018 deu Bolsonaro e em 2022, segundo as pesquisas, vai dando Lula.
Entre a eleição passada e esta de outubro próximo, Ciro Gomes vem atuando incessantemente para se firmar como alternativa à polarização Lula-Bolsonaro, que a seu ver prende o país numa espiral sem fim de eternos retornos.
Pesquisa do instituto Ideia chegou a dar 10% das intenções de voto a Ciro em abril. Mesmo o IPESPE, contratado pela operadora da Bolsa XP, conferiu o crescimento de Ciro, apontando-o com 8 %.
A chamada terceira via é um negócio inventado pela imprensa, isso é certo. Reúne setores tão díspares quanto um Ciro Gomes e o União Brasil. Expressa mais o sentimento de exaustão em relação ao bipartidarismo informal brasileiro e seu vazio de novas ideias.
O fato é que de todas as candidaturas da chamada terceira via, só a de Ciro sobreviveu e cresceu. Partidos e segmentos da sociedade começam a olhá-lo como uma alternativa forte. Resta saber se terá forças para romper a inércia do voto útil e chegar ao segundo turno. Se chegar, a história eleitoral de 2022 poderá ser inédita na Nova República.