Por @silverioalvesfilho

É em Eclesiastes, 1,2, que está escrito uma das máximas da natureza humana: “Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade!”.

No primeiro capítulo, o autor, possivelmente o Rei Salomão, filho de Davi, reflete sobre a efemeridade da vida humana. Tudo continua como sempre foi: o vento que sopra, os rios que correm para o mar e o sol que nasce e se põe diariamente. Nós, porém, estamos a cada dia mais velhos, a cada dia mais próximos da morte.

O início do capítulo já é, na verdade, a conclusão: somos pequenos e sempre seremos.

Talvez por isso a vaidade sempre nos tente, desde Adão.

A tentação parece aumentar para os que se envolvem com política, ainda que indiretamente (aqui incluo a mim também). Quantos feitos podemos fazer, quantas pessoas podemos liderar, o quão grandes podemos ser!

Por maior que sejamos, tudo ainda será vaidade, diz o pregador Salomão.

Mas Salomão, embora sábio, não era mais sábio do que a Sabedoria encarnada (I Cor 1,24): Jesus Cristo, que venceu a vaidade no deserto (Mt 4, Lc 4) e mostrou aos seus discípulos como vencê-la.

O que também é possível, embora mais difícil, para os que se aventuram na política.

Isso, para nós, ocorreria mediante o ato de sevir desinteressadamente, confiante no auxílio da graça e com preferência pelos mais necessitados, aos quais, na palavra do Senhor, pertence o Reino de Deus (Mt 5,3).

O serviço desinteressado é a resposta à vaidade. Se nada se espera, em relação a nada se gloria. Pensar de modo diverso, inconsciente da nossa efemeridade, é arriscar ter o destino do faraó egípcio Ramsés II, sobre o qual escreveu Shelley, em seu famoso soneto:

“E no pedestal aparecem estas palavras:
‘Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplai as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos!’
Nada mais resta: em redor a decadência
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio
As areias solitárias e planas se espalham para longe.”

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