Carlos Eduardo não agrega um voto à chapa de Fátima Bezerra (leia nossas análises aqui, aqui e aqui). E já mostrou que tem talento de sobra para desagregar sua própria campanha. A mais recente vítima do destempero de Carlos foi o prefeito de Natal Álvaro Dias, a quem de forma deselegante acusou de lhe dever o cargo que tem.

Álvaro, que vem à frente de uma gestão bem avaliada, tem mantido posição de distância em relação à eleição para o Governo do Estado. A neutralidade de Álvaro é importante para Fátima, basta lembrar que a própria governadora já afirmou que o principal objetivo de levá-lo para sua chapa era desarticular uma possível candidatura do prefeito de Natal ao governo. Essa era a missão de Carlos Alves na chapa, e ela foi cumprida no dia 2 de abril quando Álvaro deveria ter renunciado caso quisesse concorrer em outubro.

Carlos Alves possui inúmeros apadrinhados na Prefeitura, a começar por sua esposa, secretária da gestão de Álvaro. Sem disposição de entregar os cargos e se tornar independente em relação ao prefeito, o candidato ao Senado prefere atacar o antigo aliado e se fazer de surdo diante das cobranças para que tire os seus dos postos que ocupam. É uma versatilidade retórica que vem causando espanto, mas é assim tão surpreendente. Basta-nos lembrar que Carlos apoiou Bolsonaro em 2018, agora é candidato pelo partido de Ciro e esconde seu presidente para se apresentar como candidato de Lula.

Henrique Alves foi o grande articulador da ida do primo Carlos para a chapa governista como candidato a senador. Mas, em linguagem direta, Henrique também foi traído. O ex-presidente da Câmara, que busca retornar por cima ao cenário político nacional, contava com a gratidão de Carlos. Sem fugir de seu roteiro habitual, Carlos Eduardo abandonou Henrique assim que este lhe prestou o serviço necessário.

Numa ligação pouco cortês, Carlos informou ao primo que não o apoiaria para deputado federal. Acontece que o candidato do PDT é pressionado por seu partido a comparecer com os votos necessários para que a legenda atinja a cláusula de barreira. Assim, mais uma vez traiu a própria família e resolveu apoiar a vice-prefeita de Natal, Aila Cortez, prima da esposa de Carlos.

Não a toa, como noticiou Thaiza Galvão, a governadora e seu vice Walter Alves foram chamados a se reunir com Lula em São Paulo. Carlos não foi convidado. Fátima tem silenciado sobre seu possível candidato ao Senado. No PT, cresce a rejeição a Carlos. A deputada estadual Isolda Dantas disse em entrevista à 96 FM, nesta terça-feira, que se dedicará à vitória de Lula e Fátima. Nem uma palavra sobre o Senado.

No PT, ninguém quer bater uma foto com Carlos Alves. Os aliados de Fátima entendem que a base de apoio dispõe de nomes melhores. Pra piorar, ele praticamente empurrou o prefeito de Natal para o colo de Fábio Dantas.

Carlos sempre teve uma trajetória política mediana. Ascendeu a postos importantes levado por Vilma, como alega que posteriormente carregou Álvaro. A diferença é que Álvaro é um político hábil, com desenvoltura própria e agregador. Um estrategista frio. Possui hoje liderança maior na capital que o ex-prefeito.

Para ser candidato a vice de Vilma, quando saiu do baixo clero da política potiguar, Carlos recorreu ao então senador e presidente da CNI Fernando Bezerra. Não tinha o apoio da família, apesar do prestígio do pai, Agnelo Alves. Foi Fernando quem atrasou uma viagem ao exterior para lhe garantir a indicação. Para ser candidato a senador, valeu-se do fato de ter indicado a vice Álvaro, usando o prefeito como barganha.

Hoje Carlos se julga o dono dos votos da capital. Mas não é assim na vida real. Tal como traiu a esquerda ao apoiar Bolsonaro, Bolsonaro ao agora apoiar a esquerda, Álvaro ao tentar humilhá-lo e Henrique ao abandoná-lo, Carlos deverá agora ser deixado de lado pelo governismo. Carlos Alves é um político que já deu o que tinha que dar. Sua modesta contribuição a Natal está registrada na história. Foi mais longe do que poderia. É hora de aceitar que acabou. Se manter-se apegado à candidatura de Carlos, o governismo estará elegendo Rogério Marinho senador. É um preço muito a se pagar pelo apoio de um político transformista.

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